sábado, 3 de novembro de 2007

Mandalay

À luz da rica história birmanesa, Mandalay é ainda uma criança com uns meros 150 anos. Mesmo guardando o epíteto da última capital real, assistiu apenas a 2 reinados, sendo que o último foi desastroso e culminou com a tomada da cidade pelos britânicos.

A tradição real foi herdada, das muitas capitais reais localizadas nas redondezas e das constantes mudanças que o reino birmanês sofreu. Sagaing, Inwa, Shwebo e Amarapura foram algumas delas e todas estão localizadas a escassos quilómetros de Mandalay.

Na crença birmanesa, Mandalay deve a sua fundação à profecia de Buda, que numa das suas passagens pela Birmânia e após subir à colina de Mandalay, apontou para a sua base e disse que no ano de 2400 da sua fé, nasceria ali a futura capital do Reino. No nosso calendário, o ano 2400 corresponde a 1857, e foi exactamente nessa data que o rei Mindon começou a sua construção, transferindo 4 anos mais tarde a capital de Amarapura para Mandalay.

Hoje a colina de Mandalay, é um local sagrado, com uma enorme escadaria até ao topo, cravejada de templos e locais de culto. Encontrámos também obviamente uma imagem gigante de Buda com o dedo esticado, não no intuito de nos mandar embora, mas representando a sua profecia, que provavelmente motivou a sua fundação.

Para além das magníficas vistas, dado que emerge solitária no meio da extensa planície envolvente, a colina, é um sítio de culto fervilhante, com milhares de birmaneses a acorrerem ao local vindos dos mais recôndidos cantos da Birmânia, transportados por carrinhas atulhadas até ao topo.
Aqui ocorreu um fenómeno engraçado onde uma família inteira de birmaneses, curiosos connosco, nos ficaram a observar e nos fizeram sentir como uns animais enjaulados num circo de província. É que a sua curiosidade era superior à vergonha, e quando percebemos que estávamos a ser observados e olhámos para eles a sucessão de cabeças dispostas em leque não se moveu continuando tranquilamente a observar aquele estranho casal branquinho, de olhos redondos, sem thanaka e com uns trapos “esquisitos” vestidos.
Este curioso episódio, que nos impressionou, levou-nos a pensar, que existirão de facto muitos birmaneses, que nunca tiveram contacto com a cultura ocidental. É que numa análise simples é fácil de perceber, que os agricultores de província, com escassos meios económicos, raramente se deslocam e vivem a maior parte da sua vida nas suas aldeias privados de qualquer tipo de comunicação ou informação e onde não chegam ainda os ventos do turismo. Não existe imprensa estrangeira e a televisão só tem canais birmaneses.

Espero que tenhamos contribuído para alargar os horizontes daquela família, e que lhes tenha ficado uma réstia de curiosidade para saber mais sobre este mundo. Se assim foi já valeu a pena!

Depois da extenuante subida ao topo da colina, apanhámos um riquexó que nos levaria até ao palácio de Mandalay, de visita obrigatória.

O palácio e fortaleza de Mandalay é uma estrutura quadrada com um fosso com 70 metros de largura. Os muros com 8 metros de altura, perfazem mais de 3 quilómetros de perímetro. Rodeado de jardins, o palácio é composto por inúmeros anexos construídos em madeira, que lhe dão um ar exótico e onde nas suas salas semi-desertas, se invoca a história dos 2 monarcas que aqui reinaram.

Após este “banho de cultura”, percorremos as ruas montados num riquexó em busca dum merecido e retemperador repasto. O estado decadente e depauperado das ruas de terra batida, faziam-nos lembrar a cada passo que estávamos num dos países mais pobres do mundo. Foi num oásis de harmonia e tranquilidade, que almoçámos num restaurante com um jardim interior recuperado de uma das casas típicas de Mandalay.

A cozinha birmanesa encheu-nos as medidas e foi com forças retemperadas que saímos em busca dos famosos teatros de marionetas de Mandalay. Vendo que nas proximidades do restaurante se encontrava um desses famosos teatros, dirigimo-nos ao local e adquirimos um bilhete para a actuação nocturna, que se viria a revelar um dos melhores espectáculos a que assistimos.

Partimos em busca dos míticos Moustache Brothers, que ansiávamos há muito visitar...

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