domingo, 21 de fevereiro de 2010

Cruzeiro no rio Li

É chegado o dia ansiado do cruzeiro no rio Li !

O início é quase um anti-climax, porque no cais de saída, tudo está muito ao estilo chinês. Imensos barcos alinhados, todos iguais e essencialmente frios e crus.

Tudo ordenado tipo rebanho é encaminhado para tomar os seus lugares no interior da cabina do barco.

Partimos e rapidamente abandonamos o nosso local na cabina para passar toda a viagem no convés!

e aí, que espectáculo nos esperava...

Num ritmo relaxante, o barco segue silenciosamente arrastado pela corrente.

É verdade que a neblina que o tufão que recentemente passou na vizinhança, nos prejudicou a arte fotográfica, mas ao mesmo tempo adensou um pouco o cenário fastasmagórico e cinematográfico que se apresentava diante dos nossos olhos....

Picos desalinhados cobertos de vegetação bem densa, surgiam da neblina, desafiando a gravidade e soltando a imaginação para decifrar as formas que nos faziam lembrar. A imagem traz-nos à lembrança brincadeiras de criança que se perdem no tempo e que procuram nas nuvens formas e figuras do nosso imaginário....

A vida que preenche o rio também ajudam a colorir a paisagem. Búfalos de água, alimentam-se nas margens e das algas do rio. Jangadas de bambu serpenteiam os seus tripulantes através do rio em busca de peixe ou de turistas para uma voltinha. Algumas jangadas trazem uns estranhos tripulantes: corvos marinhos. Estes animais vêm sendo treinados há séculos para "pescar". Trazem um anel ao pescoço que os impede de engolir os peixes que capturam e "devolvem" aos seus donos o fruto do seu trabalho... Injusto, mas engenhoso, temos que convir...


Mas para tamanha beleza, diz o ditado que uma imagem vale mais que mil palavras, por isso ficamos aqui com alguns milhares de palavras...

Eis-nos chegados a Yangshuo, uma aldeia há muito descoberta pelos mochileiros, que são normalmente os grandes descobridores destes paraísos perdidos nos confins do globo...


Yangshuo, não foge à regra, mas apesar do desenvolvimento que sofreu ao longo dos últimos anos, podemos dizer que foi um desenvolvimento mais ocidentalizado, preservando a paisagem e até em certos casos embelezando-a.

No essencial Yangshuo é uma localidade muito simpática para passar uns dias relaxantes e para se ir um pouco mais longe, penetrando na verdadeira paisagem rural chinesa.

Nós quisemos aproveitar tudo e depois da desilusão da piscina do hotel estar em manutenção (as semanas acumuladas e o calor que se fazia sentir pediam um mergulho imediato), entregámo-nos nas mãos de umas simpáticas e atrevidas jovens chinesas, que entre sorrisos e espanto da minha capilaridade nos aplicaram uma relaxante "chinese feet massage"!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Guilin e yangshuo, a China rural

O que nos levou à região de Guilin e Yangshuo, foi a vontade de conhecer a China rural e avaliar se as imagens que trazíamos na nossa imaginação correspondiam à realidade.

Tínhamos também grande expectativa no já muito propalado cruzeiro no rio Li, que liga Guilin à aldeia de Yangshuo.

Mas comecemos pelo início e pela nossa curta experiência em Guilin.

Após a nossa penosa despedida do Tibete, voámos via Chengdu para Guilin. Não reservámos qualquer dia completo para Guilin. Foi pena porque a cidade, embora se assemelhe à "nova" China à medida que os edifícios modernos e impessoais, vão rasgando os céus do sul, a paisagem e a beleza natural das formações calcáricas esbatem esta primeira impressão.

A cidade é atravessada pelo rio Li, que é surpreendentemente limpo e imaculado. Dezenas de jovens aproveitam da melhor forma esta dádiva dos deuses para se refrescarem e combaterem o calor de Verão que se faz sentir.

No caminho do aeroporto para a cidade, percebemos porque se chama a cidade Guilin (significa floresta de osmanthus doces). Osmanthus é uma árvore que produz uma flor amarelada e que existe por toda a cidade. As flores possuem um forte e apreciado aroma, sendo utilizadas também para a infusão mais apreciada nesta terra. Da nossa parte está aprovada.
O rio Li (Lijiang) é verdadeiramente o coração desta cidade, que apesar de tudo mantém a baixa da bem cuidada. Claro que os sinais do progresso, dão azo a algumas excentricidades, como o surpreendente Lijiang Waterfall Hotel, onde ficámos instalados, que é o maior "hotel cascata" do mundo. Pois é isso mesmo, o hotel todos os dias a uma hora determinada, transforma uma das suas fachadas envidraçadas numa surpreendente cascata a todo o seu comprimento. Não somos normalmente fãs deste tipo de excentricidades, mas admitimos que este arrojado espectáculo nos agradou...
Antes do espectáculo, ficámos agradavelmente surpreendidos com a vista do nosso quarto e ajudou-nos a perceber, que a maior excentricidade por aqui é mesmo a paisagem e a beleza natural, que ao "brincar" com as intrincadas formas das montanhas circundantes, nos faz dar largas à imaginação. Desde a montanha camelo à gruta da flauta vermelha e acabando no mais popular ícone da cidade que é a tromba do elefante.

A vista mostráva-nos em todo o explendor o melhor de Guilin, o rio Li, as formações rochosas e o lago Fir mesmo à nossa frente com os seus famosos pagodes budistas.

Depois de um passeio pelo lago e pelas margens do rio, fomos descobrindo o artesanato local que se mistura com lojas dedicadas às famosas antiquidades cerâmicas chinesas. Dizem que a preços convidativos, mas que a nossa carteira não consegue alcançar...

Aproveitámos o nosso tempo ao máximo, embora sem coragem para experimentalismos culinários que atingem o auge do exótico no sul da China, como o muito apreciado rato do bambú, tão apreciado nesta região. Bem para dizer a verdade, o rato do bambú, é capaz de ser o menos exótico que se encontra por aqui...

Foi bem passada a tarde e ficamos com pena de não explorar um pouco mais a cidade, mas a verdadeira razão que nos trouxe aqui foi Yangshuo e o percurso para lá chegar. Esse momento está cada vez mais perto e nem a neblina fruto de um tufão que passou nas redondezas nos iria estragar este passeio...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Tibete, a despedida!

Chegámos ao Tibete carregados de imagens e de estímulos que eram o fruto do nosso interesse há já muito tempo. Sabíamos desde início da situação política delicada que extravasa na região e que os nossos passos estariam vigiados e bem monitorizados pelas autoridades chinesas.

Sabíamos por experiência própria, dada a dificuldade na obtenção do visto para a região do Tibete ou da dificuldade em marcar o hotel que queríamos. Sabíamos da história recente do Tibete e a vasta literatura que havíamos consultado, era demonstrativa da despudorada aniquilação da cultura tibetana e do genocídio do seu humilde povo.

Sabíamos que tinham sido transferidos à força milhões de chineses han para o território, fazendo dos estoicos tibetanos autóctones uma minoria no seu próprio país.

Sabíamos que os chineses possuidores de um poderio militar infinitamente superior ao tibetano, arrasaram tudo e todos, desde pessoas, templos, religião, cultura, etc. Basicamente aquilo a que chamaram "libertação" mais não foi do que aniquilar todo um povo, substituindo-o pelo seu próprio povo, numa lógica de alargamento do território e na ânsia e ganância de explorar as muitas riquezas da região, já para não falar da riqueza estratégica de dominar mais de 80% da água doce de todo o sudeste asiático.

Sabíamos também que todas estas manobras iniciadas há mais de 60 anos, tinham tido a complacência tácita de todas as nações do mundo com excepção talvez da Índia, que exilou em Dharamsala o Dalai Lama e a maior comunidade tibetana no exterior do Tibete. Dharamsala é aliás a única esperança de quem ainda acredita que um dia será feita justiça e reposta a verdade no Tibete.

Tudo isto nos repugnava e no fundo personalizava tudo o que o mundo tem de pior: A ganância, hipocrisia, desleixo, falta de valores e o medo que sempre representou a China para o resto do mundo. Foi por isso que recentemente me repugnou mais uma vez, que na sua recente visita a Portugal, não tenha existido qualquer recepção oficial ao Dalai Lama, um homem simpl,es e genial que apenas arroga aos seus semelhantes a filosofia da paz e da não agressão! Mais uma vez me indignei, que por interesses económicos, Portugal fique ligado à ganância e à hipocrisia. Não me senti representado pelos políticos da minha terra e mais do que isso senti-me envergonhado!

Todo o estado de espírito no que se relaciona com o Tibete é de compreensão e de compaixão para aquele povo sofredor, que o que sempre quis foi viver a sua vida sem ser incomodado e de uma forma simples e respeitadora.

Depois de lá estar e fugir o mais que pude ao controlo imposto, reforço a minha profunda admiração por aquele povo, que apesar de oprimido e humilhado, continua sabe-se lá a que preço a tentar preservar a sua tradição e que apesar do medo e da repressão, parece em cada olhar que nos lança pedir para não nos esquecermos deles e para alertarmos o mundo para a sua situação.

Da minha parte, um simples cidadão deste mundo, têm o meu mais profundo respeito e admiração e podem sempre, mas sempre contar comigo!

Obrigado pela lição de vida!

Obrigado Tibete!