segunda-feira, 28 de julho de 2008

Chengdu, na terra dos Pandas!

Um dos principais motivos da nossa passagem por Chengdu, já o dissemos, era o facto de podermos tomar contacto com um dos mais emblemáticos animais à face da terra. Os pandas gigantes.

Era para nós um verdadeiro “highlight” de viagem por vários motivos: Para além do panda ser um animal que todos gostam pelo seu aspecto bonacheirão e comportamento brincalhão, o verdadeiro motivo que o torna tão especial, é por estar (ou ter estado) à beira da extinção e por só existir nesta região do Mundo.

Neste momento, apenas existem 1000 Pandas em liberdade e mais alguns espécimes em cativeiro. O Homem sendo um dos principais responsáveis pela sua quase extinção, não é o único. O próprio panda, por força do seu estilo de vida, alimentação e fraca reprodutividade também tem a sua quota parte de responsabilidade. Das toneladas de bambu que come anualmente, apenas consome 20 das 300 espécies de bambu existentes. Passa 14 a 16 horas por dia a ruminá-lo devido ao seu fraco poder calórico. Tem uma época de acasalamento curta e parece que é bastante selectivo na escolha da sua companheira. Para além disto, as fêmeas apenas dão à luz uma cria e nos casos raros em que nascem duas, normalmente uma delas é posta de lado. As crias não pesam mais do que uma maçã, o que leva a que numerosas vezes se sucedam alguns acidentes como esmagamentos durante o sono, etc.

Tudo isto somado, leva a que o relativo sucesso da preservação desta espécie seja simplesmente a manutenção dos números existentes.

O centro de pesquisa do panda gigante nos arredores de Chengdu, tenta contrariar essa tendência, com 40 animais residentes, tenta aumentar a reprodutividade dos Pandas e aumentar as probabilidades de sobrevivência das pequenas crias.

Foi este centro que quisemos conhecer e onde entrámos após uma curta viagem de 10 Km. A melhor hora para visitar o centro é de manhã cedo, quando os pandas são alimentados, visto que tirando esta altura, os pandas estão empenhados no seu hobbie preferido: dormir!

O local é fantástico para um passeio e para fazer uma pausa da poluição e caos das cidades chinesas. Fica localizado numa extensa floresta de bambu, claro está, e como bónus existe um bonito lago com uma casa de chá na margem!

Ao contrário de alguns locais por onde passámos, aqui todas as indicações e explicações dos vários locais, museu incluído, estão também em inglês, o que parecendo que não… facilita!

A excitação de ir ao encontro dos pandas era grande, e a ansiedade de avistar o primeiro, impelia-nos a andar cada vez mais depressa. O local embora fosse paradisíaco, especialmente para mim que sou um aficionado do bambu gigante, começava a deixar-nos desiludidos, é que naqueles amplos espaços, só víamos… bambu. Por fim lá avistámos um ponto preto e branco, que nem com o zoom no máximo conseguíamos distinguir as feições! Mas era apenas a ansiedade de querer ver tudo no primeiro minuto, porque alguns instantes depois, lá chegávamos a um local designado por “parque infantil dos pandas gigantes”. E aí, tirámos a barriga de misérias.

Era a hora da alimentação, e o caos estava instalado! Aquele local onde 10 ou 15 peluches gigantes tinham ganho vida, era de facto inenarrável. Os pandas têm duas características que os tornam especialmente atractivos: são bonitos e desajeitados. As suas reacções e relações mútuas, provam que existem pontos a favor na teoria do caos! Os momentos proporcionados, são capazes de arrancar comentários do tipo “olha que os bichos até são engraçaditos” aos mais sisudos dos visitantes.
Após algumas pseudo batalhas em câmara lenta, alguns tombos e habilidades falhadas, já estávamos perfeitamente apaixonados pelos pandas. Ficámos largos minutos ali, a observar aquele “filme”, comovidos com mais uma obra prima com que a Natureza resolveu presentear a Humanidade.

“É por isto que vale a pena Viajar!”. Eram estes pensamentos que em silêncio nos assaltavam enquanto continuávamos a nossa visita. Para além do museu simples mas esclarecedor e dos variadíssimos espaços por onde os pandas vão sendo distribuídos consoante o seu estado de desenvolvimento, tivemos oportunidade de ver uma cria minúscula e de pegar ao colo um panda bebé. Relativamente ao segundo, só tivemos a oportunidade porque não chegámos a fazê-lo por duas razões: ou melhor, por uma, é porque era caro! 1000 Yuans, visto assim, são apenas 100 euros, mas na altura pareceu-nos uma fortuna e para além disso, assaltou-nos a ideia, se seria o melhor para os pandas, que uma trupe de japoneses e 2 lusos, andassem para ali a “chatear” os bichos!

Ao longo da visita e certos que os pandas recebem ali o melhor tratamento possível, não podemos deixar de notar alguma precariedade de algumas jaulas, com espaços demasiado confinados e claustrofóbicos. Não nos podemos esquecer no entanto do nível de vida chinês…

Os parentes pobres do parque são os pandas vermelhos, que não gozam da popularidade dos seus primos a preto e branco. No entanto esta discriminação não se faz sentir nas suas instalações.

Saímos do parque com o optimismo natural de quem vê projectos válidos e sustentados de apoio à natureza e confiantes que melhores dias virão para esta espécie ameaçada. Assim esperamos...

Estava na hora de voltar ao templo de wenshu, que estava fechado no dia anterior e aproveitar a ocasião para almoçar naquele bairro fantástico que o rodeia. Foi o que fizemos. Após um almoço típico chinês, lá partimos rumo ao templo budista que nos é sempre inspirador. Nada de especial a apontar ao templo para além do ambiente sempre positivo e regenerador que parece ser parte integrante de qualquer templo budista.

O que é de registar é o bem cuidado parque, onde vários transeuntes vêm "passear" os seus pássaros domésticos em rústicas gaiolas que ficam penduradas nas árvores enquanto os seus donos se embrenham numa disputada partida de mahjong.

Na continuação do parque, uma casa de chá dá continuidade à mistíca do lugar com litros e litros de àgua que vão correndo dos enormes bules metálicos dos empregados num contínuo vai e vem para encher e dar vida às folhas verdes da planta do chá, dos crisântemos e de tantas outras essências que por ali se sentiam.

As casas de chá funcionavam na China como um local de encontro social e onde para além da conversa, dos jogos e obviamente do chá, se aproveitava o local para algumas necessidades básicas como fazer a barba, cortar o cabelo ou.... limpar os ouvidos! Sim, em pleno século XXI, parece que ainda se preservam algumas tradições...

O nosso dia estava ganho, Chengdu também ganhou algum estatuto e deixou de ser apenas um local de passagem para o Tibete. A nós restáva-nos aproveitar a beleza e o misticismo daquela casa de chá perdida no templo, para entre repetidas chávenas de chá, apurarmos os nossos sentidos para recebermos em pleno toda a magia que o Tibete nos reservaria...

Chengdu, Sichuan

Chengdu, não estará nos percursos mais óbvios realizados na China, e embora isso só por si já seja um ponto a favor, para nós Chengdu, representava 2 grandes objectivos de Viagem: a ligação a Lhasa no Tibete e a aproximação aos pandas, esse animal simbólico adoptado pelo WWF como símbolo da preservação das espécies e que habita apenas em duas províncias chinesas: Sichuan e o sul de Shaanxi.

Ao planearmos a viagem, tínhamos decidido que visitaríamos a reserva natural de Woolong a cerca de 150 quilómetros de Chengdu, onde os pandas vivem em absoluta liberdade. Mas após alguma pesquisa, chegámos à conclusão que o mais provável era visitarmos uma bonita floresta de bambu e pandas nem vê-los! Assim sendo, o nosso contacto com os pandas seria feito no centro de pesquisa e desenvolvimento de pandas nos arredores de Chengdu. Este centro, que conta com um sucesso relativo na preservação desta espécie, possui um amplo parque do tipo jardim zoológico, mas onde ao contrário do que é habitual, os animais estão em primeiro lugar. Amplos espaços recriando o seu habitat natural, albergam os pandas tornando por vezes em alguns deles impossível a sua observação. Muitos espaços fecham consoante as necessidades dos pandas: épocas de acasalamento, gravidez, etc… Está bem feito, mas quanto a este parque já lá iremos…

Quando chegámos a Chengdu, informaram-nos que esta era uma pequena cidade de 4 milhões de habitantes!!! A entrada na cidade no percurso do aeroporto até ao hotel, mostrou-nos que estávamos certos. Pandas e Tibete, não há nenhuma razão suplementar para visitar Chengdu. Ficaríamos no entanto surpreendidos…

Arranha-céus a perder de vista, mostravam-nos a face da nova-China, onde a modernidade é plantada à força, empurrando o exotismo e ritualidade que parecem envergonhar os chineses para os cantos mais recônditos e que tanto atraem as almas ocidentais sempre em busca das vestes em seda colorida, chapéus em bico e riquexós frenéticos.

Depois do ritual do costume na chegada ao hotel, partimos para um almoço tardio onde decidiríamos o que fazer no que restava da tarde. O que nos pareceu mais acessível e interessante, foi uma visita ao templo de Wenshu, um agitado templo budista da dinastia Tang, segundo a descrição do guia. A referência a 2 casas de chá no templo, retirou-nos todas as dúvidas e foi para lá que partimos, porque a tradição de 3000 anos do chá nesta região não é de menosprezar!

Chegados ao templo, uma meia desilusão. O templo já estava fechado, mas em contra-partida, a zona envolvente era o oposto da descrição de Chengdu! Tínhamos à nossa frente, um amplo bairro tradicional, com as típicas casas em madeira e os seus pátios bem cuidados, onde restaurantes, pequenos comércios e casas de chá, faziam a delícia dos transeuntes.

Um verdadeiro achado! Nada melhor, do que quando não temos qualquer expectativa e somos presenteados com uma verdadeira pérola! A não perder. Percorremos o bairro de lés a lés, desfrutando de umas chávenas de chá e de umas compritas pelo caminho. Ao templo voltaríamos mais tarde, porque sem dúvida valeria a pena!