quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Olduvai, viagem ao centro da Terra...

A mensagem descrita no título deste post tem uma simbologia muito especial porque se juntam 3 factores muito interessantes na nossa ida do Serengeti para o Ngorongoro.

Em primeiro lugar, porque na fronteira do Ngorongoro e do Serengeti encontra-se a garganta do Olduvai, um local extraordinário também apelidado de berço da humanidade e que vou passar a descrever mais à frente. Em segundo lugar, porque vamos estar no centro da cratera do Vulcão do Ngorongoro num local místico e pujante de vida e em terceiro porque não consigo evitar a ligação que este lugar me transmite desse visionário com um tanto de lunático que era Júlio Verne que nos transportou efectivamente para o centro da Terra... Bem sei que a "passagem" que Júlio Verne encontrou era na Islândia, mas não vamos perder-nos em preciosismos :-)

Voltando à garganta do Olduvai, um local designado como património da humanidade pela UNESCO em 1979, e também apelidado como berço da humanidade dado tratar-se de um dos locais mais importantes do Mundo no que respeita à paleontologia e arqueologia. Encontram-se aqui registos de actividade "humana contínua" desde há 2,1 milhões de anos até à "apenas" 15000 anos atrás, o que a torna única.


Este local foi outrora um lago, com milhões de anos de actividade e deposição de cinzas vulcânicas que "taparam" e conservaram importantes registos de actividade humana durante milhões de anos. A actividade sísmica provocou a drenagem completa do lago  e a erosão de alguns maciços que chegam a atingir os 100 metros de espessura, revelando um conjunto estratigráfico extremamente importante, porque cada uma das "camadas" existentes representam períodos temporais, que permitem datar a actividade humana ao longo dos tempos.


De uma forma rápida e resumida, e diga-se sem grande rigor científico, a garganta do Olduvai foi descoberta por paleontólogos alemães em 1910 que recolheram amostras de fosseis importantes e os levaram para a Alemanha. Embora tivessem em mente voltar ao Olduvai para posteriores investigações e excavações, a primeira guerra mundial, frustrou os seus intentos. Mais tarde já em 1930, Louis e Mary Leakey viram num museu em Berlin estes fosseis e nasceu aí o grande desenvolvimento da descoberta do Olduvai.
No ano seguinte já se encontravam na garganta do Olduvai e as importantes descobertas que se sucediam a um ritmo muito interessante, grangearam-lhes fama mundial e com ela veio o importante apoio financeiro da National geographic society por exemplo, que permitiram que até aos dias de hoje tenham sido descobertos mais de 60 hominídeos na região, alguns com uma importância extraordinária no preenchimento de lacunas na história evolutiva da nossa espécie e outras por revelarem exemplares únicos como por exemplo o Australopithecus boisei com uma bonita idade de 1,75 milhões de anos, o hominideo mais "velho" à data da sua descoberta.
Foi descoberto também o mais antigo Homo habilis, o primeiro homínideo da nossa história evolutiva a fabricar instrumentos.


Nas imediações, foram descobertas também pegadas, reveladoras da posição bípede, com 3,75 milhões de anos.
Estas e outras descobertas, levaram à recente conclusão feita por uma equipa de especialistas americanos, que a nossa espécie nasceu aqui, na África de Leste, e por esta razão, apelidou-se este local de berço da humanidade.

No fundo, e voltando à nossa viagem, é um voltar a "casa" passados uns milhões de anos... O bom filho a casa torna...

Depois desta surpreendente e fascinante visita cultural, prosseguimos até ao nosso destino, a reserva do Ngorongoro.


Será que vamos encontrar a "passagem" para o centro da Terra?

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