terça-feira, 9 de outubro de 2007

Introdução à Birmânia (Myanmar)



A Birmânia (actual Myanmar), está localizada no sudeste asiático e faz fronteira com a Tailândia e o Laos a oeste, com o Tibete e a China a Norte e com a Índia e o Bangladesh a oeste.

Possui uma população de 52 milhões de habitantes, dividida em oito etnias principais (Bamar, Shan, Mon, Kayin, Kayah, Chin, Rakhaing) que se subdividem num total de 67 sub-etnias. Destas, os Bamar, representam 68% da população e controlam o país. O nome Birmânia advêm desta etnia maioritária (do inglês Bamar = Burma) e a linguagem oficial de todo o sistema educativo é o birmanês, relacionado também com esta etnia.


A Birmânia não apresenta o padrão comum dos países subdesenvolvidos no que respeita à distribuição da população, onde a população se concentra nas grandes cidades. A excepção é a antiga capital Yangoon (antiga Rangum), onde se estabelecem cerca de 10% dos birmaneses. Não é por isso difícil de compreender por que 70% da população subsista da agricultura.

Na lista da ONU do rendimento anual per capita, a Birmânia ocupa um modesto 173º lugar em 179 países avaliados (dados de 2003) com cada cidadão a auferir uma média de 230 dólares anuais, o que a coloca imediatamente como um dos países mais pobres do mundo. Se estes dados já são conclusivos, a inflação que atinge os 50%, não deixa margem para optimismo quanto ao futuro. A Birmânia já foi um país em vias de desenvolvimento e nos últimos 20 anos, amordaçados por uma mão de ferro da junta militar que está no poder, vem cada vez mais para o fundo e a tendência tem sido sempre para piorar. Embora existam riquezas incalculáveis em recursos naturais, destacando-se essencialmente o petróleo, onde a Birmânia possui provavelmente a maior reserva de petróleo asiática inexplorada, possui também pedras preciosas (safiras, rubis e esmeraldas), bem como jazidas de jade verde (o mais valioso), e depósitos de ouro e prata. Existe também a maior e praticamente a única floresta de dimensões consideráveis de Teca, uma madeira exótica valiosíssima, pelas suas características específicas de durabilidade e por não apodrecer com a água.

Mais uma vez, e para não variar, são os chineses que mais lucram com a situação lastimável em que se encontra o país, sendo o principal e praticamente o único país com trocas comercias. Evidentemente que a principal importação da Birmânia à China é armamento.


87% dos birmaneses, são praticantes de Budismo. Na Birmânia a corrente budista dominante é o Theravada (também praticada no Sri Lanka, Tailândia, Cambodja e Laos), a escola Theravada, é por assim dizer a mais conservadora, austera e ascética e logo a mais difícil de praticar. Existem em Myanmar cerca de 500 000 monges.

O nome original do país era “Myanma”, foi renomeado para “Burma”(Birmânia) pelos Britânicos aquando da sua conquistra deste território no século XIX após as 3 guerras anglo-birmanesas. Em 1989 após os massacres ocorridos numa manifestação pacífica onde morreram mais de 3 000 manifestantes e numa tentativa de reabilitar a reputação internacional do país, a junta militar renomeou o país com o seu nome original “Myanmar”. Além da mudança de nome do país, convocou eleições livres, onde a prémio Nobel da paz (1991) Aung San Suu Kyi, filha do herói da independência Aung San, venceu arrebatadoramente as eleições de 1990 à frente do seu partido a Liga Nacional para a Democracia (LND). Mesmo estando em prisão domiciliária há cerca de 1 ano ganhou 392 dos 485 lugares disputados no parlamento. Obviamente que as eleições foram impugnadas e a heroína do povo birmanês onde reside a sua réstia de esperança Aung San Suu Kyi, continua em prisão domiciliária desde essa altura.



A capital já não é Yangoon (antiga Rangun), tendo sido mudada de um dia para o outro para Naypyidaw, que fica 240 Km para norte de Yangoon, em 6 de Novembro de 2005, sem que se conheça qualquer motivo para a mudança de local e num gesto típico do autoritarismo e despotismo da junta militar.

A Birmânia é provavelmente o país mais isolado do mundo, onde até há pouco mais de 5 anos atrás, o turismo era praticamente inexistente. O acesso à Internet é limitado e há poucos dias com as manifestações que ocorreram, foi cortado o serviço. Não existem canais de televisão estrangeiros, pelo que é perfeitamente normal para quem visita a Birmânia, dar de caras com um birmanês boquiaberto a olhar para nós dado que é a primeira vez que vê um ocidental de pele branca e olhos redondos!

A globalização ainda não chegou aqui e todos os homens birmaneses usam o seu sarong tradicional e as mulheres (e muitos homens também) usam a “tanaka” (Uma pasta de sândalo moída), uma espécie de maquilhagem que têm 2 objectivos, estéticos e de protecção solar.





O mercado negro é florescente (consegue-se 1300 Kyats por cada euro) o que é normal num regime miserável onde os bens de consumo essencial escasseiam. O Câmbio governamental é de 450 Kyats por cada euro!

É possível jantar no melhor restaurante de Yangoon por cerca de 15000 Kyats (pouco mais de 10 € trocados no mercado negro ou 30 € nos postos de câmbio oficiais ou nos hotéis)

Quem visita a Birmânia não vai encontrar praticamente turistas, vai encontrar um país pobre (miserável), completamente virgem, permite-nos pensar que toda a região do sudeste asiático seria assim há 100 anos atrás. Vai encontrar também um país riquíssimo na sua história e especialmente no seu povo que possui uma dignidade e uma espontaneidade que não consegui encontrar em mais lugar nenhum no mundo.

Para quem gosta de viajar no desconhecido, por caminhos raramente trilhados, onde se observam modos de vida realmente primitivos, com uma miscelânea de tribos com as suas especificidades e em perfeita segurança, então a Birmânia é de certeza o paraíso.

Não nos podemos esquecer nunca é que tudo isto só é possível devido à sanguinária junta militar que usa de todos os processos mesquinhos que conhecemos das ditaduras para aterrorizar e “manter na linha” o povo. A tortura é comum. Existem prisões que ninguém sabe onde ficam, e é normal pessoas serem presas nessas prisões e nunca mais aparecerem. Não existem intelectuais e os que existem desaparecem rapidamente. Na Birmânia o povo só tem electricidade dia sim dia não e só há noite.

Apesar de tudo isto e apesar da controvérsia que visitar a Birmânia gera em termos éticos eu sou apologista que se deve visitar a Birmânia. Fazer um esforço para gastar o dinheiro nos negócios familiares e fugir de tudo o que implica gerar receitas para o governo. Mesmo sabendo que o governo vai sempre lucrar connosco enquanto visitantes, a nossa visita (e eu pude notar isso) é uma esperança revigorada para o povo birmanês. Ouvi-los, saber o que se passa e saciar a sua curiosidade quanto ao nosso modo de vida (claro que isto não é fácil, mas é sempre possível) contribui para que exista uma evolução culturar evidente e que todos esperamos possa ser a semente de uma mudança num futuro próximo.

Boa sorte Birmânia, boa sorte birmaneses, vocês merecem!

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