quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Lombok, Kuta, a outra...

A "excursão" às Gili, tinha corrido tão bem com o Echo, que resolvemos ir também com ele no dia seguinte dar uma volta pela ilha.

Segundo ele, a seguir às Gili, o ponto mais alto seria a praia de Kuta, homónima da sua irmã balinesa mundialmente famosa.

Aproveitaríamos o caminho, para ver as vistas e fazer uma paragem no Taman Narmada, cuja tradução para inglês, se transformava num muito apelativo "Water castle and gardens!".

É no fundo um templo do século XVIII que pretende reconstituir a subida à montanha mais alta da ilha e segunda da Indonésia, o Monte Rinjani e claro, local sagrado como todas as altas montanhas da Indonésia! Afinal é lá o domínio dos Deuses...

O parque é interessante, apesar de tudo, bem cuidado, onde os jardins, os complexos de piscinas e o rio, permitem uma visita agradável.





Seguimos viagem para o Sul, onde se encontra a praia de Kuta.



É uma praia de uma beleza assinalável! Para além disso, o primeiro impacto foi extraordinário quer pelo azul turquesa da água, quer pelo facto de estarmos totalmente sozinhos!



Ninguém!

Para além de alguns locais a tentarem vender bugigangas no parque de estacionamento, na praia não estava absolutamente ninguém!

Passado um tempo, uma Australiana que por alí apareceu (não consegui nunca perceber de onde) para aprender a surfar, veio ter com a Xana para lhe pedir se podia guardar a máquina fotográfica por alguns instantes.

Eu entretanto divertia-me a fazer umas carreiradas nas boas ondas da praia, fazendo parecer à Australiana que seria um surfista e que talvez a pudesse ensinar alguma coisa :-) Nunca fiz surf, mas para as carreiradas, ali as praias de Peniche foram uma excelente escola pelos vistos :-)



A paisagem era fantástica, mas acabou por ser aqui que tivemos mesmo assim o episódio mais desagradável em toda a Ásia...

Passado algum tempo apareceu um local chato, muito chato, a meter conversa e a querer à força que lhe comprássemos alguma fruta que tinha para vender. A nossa primeira reacção até foi logo de lhe comprar, mas depois de ver a faca suja e ferrugenta com que pretendia arranjar-nos os ananases, desistimos imediatamente da ideia.

A partir daí, sentado ao nosso lado, depois de lhe pedirmos várias vezes e educadamente para sair, ficou por alí, com uma conversa estúpida e intimidadora com a faca e algumas alusões à faca...

Nós sabemos que as pessoas são miseráveis e depois de pensar um pouco naquilo, que não foi nada por aí além, concluímos, que com tão pouca gente a passar por ali, o desespero apodera-se das pessoas que vêm nos escassos turistas que ali passam, a sua oportunidade, provavelmente até da sua sobrevivência.

Se pudesse voltar atrás, se calhar, teria feito as coisas de outra forma, embora tivéssemos toda a razão, por vezes há que pensar um pouco mais além...

Tirando este episódio passageiro, fizemos aqui uma bela praia!


Depois de sentirmos que já tínhamos absorvido e relaxado tudo, levantámo-nos e logo apareceu o Echo para irmos até ao carro.

Parámos no caminho para comer uns fritos de rua (fritos raramente dão intoxicação alimentar) e ficámos abismados com a capacidade que o echo tinha para comer umas malaguetas bomba, verde alface, que eu só de partir uma ao meio e encostá-la na língua, tive a sensação de ter colocado a língua na tomada...

Comia 2 malaguetas por frito, o que para mim dava no mínimo para ser internado durante uma semana!

Ao falarmos das gastronomias orientais e ocidentais (a nossa), queixava-se ele que a nossa não tinha sabor :-) Obrigado, a comer malaguetas assim, a nossa comida só poderia ser para ele sensaborona!

Também me parece que não será por acaso que nos confidenciou mais à frente que sofria de alguns problemas gástricos... Porque será?

Seguimos caminho e acabámos por fazer uma paragem num centro comercial que existia no caminho. Para eles, um centro comercial é um acontecimento, nos primórdios do desenvolvimento lá ir é quase um sinónimo de status quo... Não quisemos fazer a desfeita ao Echo e lá fomos.

Houve ali um choque cultural intenso. Uma vez que vínhamos da praia, íamos obviamente em trajos menores, só que lá está, estavamos num país muçulmano, numa região afastado do desenvolvimento e logo conservadora e retrógrada...

A Xana, foi devorada com os olhos por quase todos aqueles muçulmanos, que raramente deviam ver uma mulher branca, quanto mais de mini saia e top!

A visita foi rápida, a Xana desta vez não gostou de ir às compras :-) 

Notámos numa característica no Echo, o nosso guia, que se revelou um verdadeiro profissional. Ele deixáva-nos nos locais e desaparecia, deixava-nos totalmente à vontade sem nunca interferir na nossa privacidade e na nossa experiência. Mas assim que nos levantávamos, se procurasse por ele, lá estava ele a acenar e a perguntar se precisávamos de alguma coisa!

Aliás, a experiência que o Echo nos proporcionou, foi muito além de ser o nosso guia e de nos levar aos locais certos.

Nisso ele fez o melhor tenho a certeza, para além da experiência fantástica que nos proporcionou no dia anterior nas Gili Islands, e de hoje nos trazer à melhor praia de Lombok foi também um contador de histórias e estórias. Foi um guia completo.

Mas para além disso, o Echo era um tipo mais diferenciado, e notava-se que era um tipo inteligente, que tentava não apenas sobreviver, mas sim viver com as escassas condições que tinha à mão.

Trocámos muitas impressões e experiências durante esta viagem e aprendemos muito, mesmo muito da cultura do povo aqui, quer das tradições centenárias, quer do dia a dia.

Ele aprendeu também muito, e a sua curiosidade era intensa acerca do nosso modo de vida, do que fazíamos e fez muitas perguntas. Ficou escandalizado quando eu lhe disse que morava na casa que o avô da Xana nos tinha disponibilizado e disse com um orgulho intocável " - Eu não quis aceitar o dote da minha mulher e fiz a nossa própria casa...". Achei este pormenor delicioso, porque éramos todos da mesma idade, percebia-se que o Echo era um tipo esperto, mas a nossa cultura é verdadeiramente o que nos molda e as tradições são mesmo arreigadas, mesmo quando não as percebemos...

O Echo, trabalhava no hotel onde estavamos hospedados, o Holiday inn, e fazia todo o tipo de trabalhos, desde recepcionista até empregado do restaurante a lavar pratos ou casas de banho. Chegava a trabalhar 16 horas por dia para ganhar o equivalente a 1 euro por dia...

Quando pensamos e somos confrontados com estas realidades, não conseguimos deixar de pensar que na realidade por mais que arranjemos defeitos no nosso país e nas nossas vidas, somos na realidade uns sortudos sem o sabermos, porque temos oportunidades que mais de 90% da população mundial não tem...

Nós podemos dar-nos ao luxo de sermos curiosos com os outros povos, isto enquanto eles tentam apenas sobreviver...

Como o Echo era um tipo esperto, rapidamente percebeu, que com a miséria que ganhava, era fácil ganhar muito mais, não trabalhando no hotel, mas sim oferecendo serviços aos seus clientes de forma independente!

E é verdade, em apenas um dia, cobrava 25 euros o que era para nós barato, e ele ganhava praticamente o mesmo que num mês de trabalho!

Boa sorte Echo, tenho a certeza que te vais safar!

Mais uma vez o circulo se fechava, onde a nossa vida ficaria marcada mais uma vez, pelos locais e pelas pessoas que conhecemos. O Echo, Kuta, as tartarugas e o paraíso das Gili ficariam gravados em nós, no constante enriquecimento que sentimos enquanto viajamos!

Adeus Lombok, até mais!

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