sábado, 29 de janeiro de 2011

Passeio de balão em Masai Mara !

O dia começou bem cedo!
Levantámo-nos perto das 4 horas da manhã, sem dificuldade já que a expectactiva para o passeio de balão era compreensivelmente enorme!
Nunca tínhamos andado de balão e era o nosso segundo dia no safari, é por isso fácil de imaginar o nosso estado de espírito! Íamos juntar um explosivo 2 em 1, a adrenalina própria de andar de balão, e a perspectiva totalmente nova de uma paisagem de savana ao nascer do sol!
Depois de um pequeno almoço rápido, lá partimos numa espécie de mini-safari nocturno, percorrendo os trilhos que nos levariam para o local de encontro de todos os balonistas :-)
Chegados ao local, já lá estavam os 2 balões que nos levariam a tocar as nuvens de Masai Mara!
Esperamos que cheguem todos os tripulantes e lá começam os preparativos de enchimento dos balões, com o diligente piloto britânico a comandar as operações...
Ao olhar para estas fotos, não consigo deixar de lembrar que esta foi a primeira viagem que fizemos com uma máquina fotográfica digital (com alguma relutância minha confesso) e torna-se evidente que não dominávamos a sensível fotografia nocturna! Quando olhávamos para o ecrã pequenino da máquina, achávamos que tínhamos ali umas grandes fotos, sensação que rapidamente se desvaneceu quando as visualizámos em casa...
O sol ameaça nascer quando os imponentes balões começam a ser cheios. As cores dos balões, amarelo e vermelho, iluminadas pelas potentes chamas que os inflamam, parecem fogueiras gigantes no meio da savana, o calor das chamas, quebram a noite fria e aquecem-nos o corpo, já que a alma, essa já estava incandescente!

Aqueles 2 monstros que parecem de outro planeta são deveras impressionantes. Pelo tamanho, pelas cores e pelo momento... Os tímidos e aparentemente frágeis cestos de vime na base esperam-nos juntamente com o magote de japoneses que entre uns "thank you vely much sil" e uns "arigatos" lá se encaixam nas várias secções dos cestos.
Estamos todos prontos? Estamos e aí vamos nós! Nunca se aplicou tão bem o "dá-lhe gás!!!" como aqui!
Levantamos vôo com umas potentes "gazadas" e num ápice estamos a uma altura considerável! O cesto abana um pouco e faz uns gemidos que a todos pareciam pouco promonitórios!!!
O piloto impassível, continua a largar gás (botano, não metano) e passada a primeira descarga de adrenalina e esquecidas as vertigens, relaxamos e damos conta de que simplesmente flutuamos pelo céu! É magnífica a sensação de voar de balão! Há alturas em que não se ouve um ruído, não existe uma trepidação, e a sensação é indescritível, quase bíblica: Não morremos ao terceiro dia mas mesmo assim, ascendemos ao céu!
A paisagem é arrepiante, e nós temos a tendência para nos emocionarmos com os lugares e as pessoas... Este é sem dúvida um momento marcante para o resto das nossas vidas e dificilmente o vamos esquecer! São estes momentos que cada vez mais me convencem que é bem empregue todo o dinheiro que gastamos nas viagens, que é certo não nos trazem nada de material, mas ganhamos um verdadeiro tesouro emocional, que nunca nos poderá ser retirado dado estar "aprisionado" para sempre na nossa memória...


O nascer do sol, vem apimentar um pouco mais a já de si deliciosa paisagem. Lá em baixo, vemos o que parecem ser carreiros de formigas e que são na realidade milhares e milhares de gnus na sua migração sazonal... Por vezes estamos lá no alto e admiramos a magnificiência da savana africana em todo o seu esplendor, noutras, fazemos vôos razantes e admiramos os gnus, zebras, girafas, elefantes e tantos outros animais que transformam Masai Mara numa das mais vibrantes zonas de vida selvagem do mundo!


Alguns beliscões mais tarde, certificando-nos que não vivíamos um sonho, acompanhados de umas fotos que também comprovam que estávamos bem acordados, e que diga-se não fazem jus à sublimação do momento, esperáva-nos um momento radical para contrapor com a tranquilidade do vôo: a aterragem...
Não me recordo qual foi o tempo de vôo, parece-me que terão sido umas 2 horas, embora nos tenham parecido alguns minutos, tal a satisfação com que o fizemos. No final, começámos a avistar o local onde estava a ser preparado o nosso pequeno almoço em plena savana, estando no local as carrinhas que transportaram os balões de manhã cedo. Foi inevitável começar a dissertar, como seria a aterragem e na nossa cabeça, dada a calmaria da viagem, imaginámos logo que o piloto com toda a sua perícia e experiência demonstrada ao longo da viagem, faria uma manobra certeira, colocando os cestos directamente em cima das carrinhas. "bem, se calhar estamos a exagerar, ele aterra calmamente ao lado dos cestos e depois colocam-nos em cima das carrinhas, não achas?"
Estávamos nós nestas dissertações na maior tranquilidade quando o até então pacato piloto, grita a plenos pulmões: "EVERYBODY SIT DOWN IN THE BOTTOM OF THE BASKET!!! EVERYBODY SIT DOWN!!!"

Parecia que tinha tocado a sirene dos bombeiros! Ficámos todos incrédulos, nós porque não entendíamos a razão de termos de nos sentar "Sentar no cesto? mas para quê? o bife enlouqueceu!" e os japoneses, porque perceberam que alguma coisa não estaria bem, mas não percebiam patavina de inglês!!!
Ao vermos que nos aproximávamos a grande velocidade e perigosamente de terra, mais convencidos ou menos convencidos lá nos sentámos todos no último instante preparados para sentir um grande impacto quando no derradeiro momento o piloto puxa uma corda que faz levantar um pouco o balão evitando desta forma o impacto com o chão!

Continuamos no entanto a uma velocidade considerável num võo razante a terra e começamos a ouvir o roçar do cesto na erva alta e imediatamente no chão! Muitos metros à frente e depois de darmos uns bons saltos ao arrastarmo-nos pelo chão, acompanhanhando o relevo do terreno, lá conseguimos diminuir consideravelmente a velocidade para no último momento o cesto virar e ficarmos todos perfeitamente surpreendidos e "pendurados" no cesto "semi-capotado"!

Depois de saltarmos todos para o chão, uns com mais facilidade do que outros (deviam lá estar pessoas com sessentas e tais), todos nos rimos com a situação depois de termos entendido que esta seria a técnica comum de aterrar os balões, mas na realidade estávamos todos aliviados, sem que ninguém o quisesse demonstrar, porque há alguns minutos atrás, aposto que ninguém conseguiu evitar pensar que algo teria corrido mal com o nosso balão! Acabou-se o gás!

Depois de todas estas emoções fortes, nada melhor do que um típico pequeno almoço à inglesa, com a particularidade de tomarmos um aperitivo de champagne. Uma excentricidade a fazer lembrar outros tempos e embora não sejamos adeptos incondicionais destes luxos, achámos que as emoções que tínhamos vivido tinham sido de luxo e por isso porque não?

Até porque a verdadeira emoção daquele pequeno almoço era estarmos em plena savana e há medida que comíamos éramos observados por alguns gnus que se encontravam a escassas dezenas de metros de distância!
O que se aprende imediatamente num safari é que é totalmente proibido sair do jipe ou da carrinha, seja porque motivo for! Somos avisados por todos logo à partida, sempre com uma estória real de uma qualquer desgraça que aconteceu, sendo típica aquela dos japoneses, que acharam os leões tão fofinhos, pareciam peluches, que saíram todos a tirar fotografias sendo imediatamente devorados! Estórias verdadeiras ou não, mitos ou não à parte, a verdade é que vimos com os nossos olhos várias vezes paisagens de quilómetros intermináveis onde não de via vivalma, para a alguns escassos metros à frente, ver grupos de leões escondidos na erva alta da savana! Já para não falar das cobras que também chegámos a ver a atravessar os trilhos...
Ou seja, o pequeno almoço tinha no menú a adrenalina própria de se estar a pé na savana, e embora o sentimento fosse de que se estávamos ali era porque "eles" sabiam o que estavam a fazer, confesso que não consegui evitar olhar para todos os lados e verificar que estávamos a salvo dos predadores!

Acabado o repasto retemperador, partimos nas carrinhas que já nos esperavam para um apetecido safari matinal.

Ficam aqui alguns registos da emoção de estarmos ali no a viver o que de mais puro existe: a vida selvagem!
Mas o dia seria profícuo em emoções fortes e estas seriam para continuar...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Masai Mara !

É aqui que começa o nosso Safari, e o mínimo que se pode dizer é que estamos muuuuito entusiasmados...

O Masai Mara abre-se a nossos olhos e os nossos sentidos estão todos despertos. A novidade, a beleza da paisagem, a adrenalina do encontro com os animais selvagens, tudo isto intensifica o prazer que sentimos.
A "nossa" Hiace abre a "tampa" e lá vamos nós de cabeça de fora à espreita, preparados para entrar no nosso próprio documentário da National Geographic!
Os primeiros animais que avistámos foram zebras e gnus! haveríamos de os ver literalmente aos milhares, mas aqueles eram os primeiros e ainda parecia mentira que existisse um sítio onde se pudesse ver toda aquela vida selvagem!!! Vamos ver até quando... É irónico pensar, que o que preservou e continua de certa forma a preservar toda esta vida selvagem, é a antítese da preservação: a caça grossa!



A verdade é que as quantias astronómicas que os caçadores estavam dispostos a pagar pelas suas caçadas desde o início do século passado, foram as mesmas que permitiram que fossem criadas estas reservas, que de outra forma de certeza já não existiriam...

Mas adiante, que o momento é de excitação, reagimos como se fossemos ali estar apenas alguns minutos e queremos absorver tudo absolutamente tudo o que nos rodeia no mínimo tempo possível! " - Olha, olha está ali um gnu" "- E ali uma zebra" " não ali do outro lado acho que vi girafas, e lá ao fundo são elefantes?".

Quem decide fazer um safari cedo ouve falar dos famosos big five: Elefante. búfalo, rinoceronte, leão e leopardo". É praticamente um trofeu de caça! Se "aprisionarmos" os Big Five na nossa máquina fotográfica cumprimos um dos muitos objectivos que pretendemos alcançar com esta viagem! É ridículo mas na verdade, lá para o final da viagem, não conseguimos evitar uma certa frustração de não avistarmos o mais dificil dos "cromos" o leopardo, o mais escasso e fugidio dos cinco que e ainda por cima tem hábitos nocturnos...
Há medida que avançávamos, a erva alta e as acácias compunham a paisagem, o James fingia alguma excitação enquanto nos explicava inúmeros factos relacionados com a reserva e com os animais. Aprendemos por exemplo com ele que existe uma relação de simbiose entre os gnus e as zebras. Onde o excelente faro e escassa visão de uns é equilibrado com a excelente visão e escasso faro de outros. É por esta razão que os encontramos quase sempre juntos na savana.

Aprendemos também as diferenças entre inúmeras gazelas que povoam o local, tal como a gazela de Thompson e a gazela de Grant.


Para ser totalmente honesto, estas informações que fomos retendo, foram apreendidas bem mais tarde, porque nesta altura, rodávamos a cabeça o mais depressa que podíamos e balbuciávamos sem prestar atenção "yes, yes James, very interesting!" .
A extensão da paisagem não deixava de nos impressionar e o facto de seguirmos sozinhos por aqueles trilhos e sermos constantemente surpreendidos pela fauna que nos ía aparecendo pela frente dáva-nos uma sensação de liberdade imensa, se bem que confinados à nossa "Hiace", porque a sensação é que se metermos um pézinho fora da carrinha somos devorados sem apelo nem agravo!!!
O primeiro grande highlight é quando avistamos uma família de elefantes descansando e alimentando-se à sombra de uma acácia! Chegamos devagarinho e paramos, ficando vários minutos extasiados e em silêncio a observar aqueles impressionantes paquidermes que são tão grandes como simpáticos!

Eles parecem observar-nos a nós também de uma forma semi-despreocupada, tal é a habituação destes animais aos jipes e carrinhas que por ali vão passando, embora tenhamos notado na barreira que fizeram entre nós e a pequena cria do grupo. O espírito protector dos elefantes é admirável...

Várias vezes dissertámos sobre como nos veriam todos estes animais, será que nos viam como mais uma espécie entre tantas outras que podemos encontrar na reserva? Uma coisa é certa, para a maioria dos animais éramos pacíficos e conviviam connosco com a maior indiferença! Melhor assim, ficamos com a ilusão que não os incomodamos e isso conforta o nosso genezinho ecologista...

Cedo ficámos a perceber que o James era perfeitamente obcecado por leões, para ele um safari era equivalente a ver leões, tudo o resto era praticamente desprezável! Passámos por babuínos, gazelas, abutres, etc. e nem abrandava... Finalmente, pelo rádio com que se comunicam os guias chega a notícia da localização de alguns leões na proximidade! A notícia arrancou o James da letargia em que se encontrava e a nós..., bem a nós já nada nos excitava mais, estávamos nos limites do nosso mundinho da fantasia em que tudo aquilo nos parecia um sonho e só tínhamos uma certeza: Não queríamos acordar!

O impacto de ver um leão mesmo à nossa frente é no mínimo poderoso! Não é por acaso que o denominam o rei da selva, ou neste caso da savana... A juba imponente, as patas enormes com garras pontiagudas a despontar e o rugido aterrorizador, colocam-nos em sentido e provoca-nos uma adrenalina extrema, potenciadora de um imenso prazer!



O anti-climax é olhar à nossa volta e ter a sensação que estamos na hora de ponta de Masai Mara! inúmeras carrinhas como a nossa, cercam literalmente o casal de leões, e embora fiquemos com a sensação que estes são completamente indiferentes ao que os rodeia, não conseguímos deixar de sentir que algo de errado se passa...


O sol já ameaça retirar-se, tal como nós que tomamos o caminho do nosso lodge. O fantástico Mara Simba Lodge! O caminho faz-se de forma apressada para chegarmos ainda de dia, não sem antes vermos o repasto com que uma leoa se deliciava após uma caçada bem sucedida...
Chegamos ao hotel e a recepção é óptima, com uma simpatia extrema e até exagerada fruto de uma cultura bem vincada e herdada do colonialismo... Recebemos com redobrado prazer o típico welcome drink, bem fresquinho e que nos ajuda a digerir os quilos de pó que "degostámos" nos acidentados (para ser simpático) 250 Km que nos separam de Nairobi!
Depois de alguns 5 empregados levarem as nossas 2 malas, e depois de ficarmos agradavelmente surpreendidos com o bungalow que nos foi destinado, optámos por um banho retemperador (e branqueador) e rumámos para a varanda sobre estacas sobranceira ao rio que passava mesmo em baixo!
Quando descrevi atrás o hotel como fantástico, não foi por este ser luxuoso ou grandioso, bem pelo contrário, é um hotel confortável e acolhedor, com uma bonita decoração étnica e tribal como eu acho que se impõe neste local. Também não foi apenas pelo confortável bungalow em que ficámos instalados com uma maravilhosa varanda elevada que nos coloca ao nível das copas das árvores e que nos dá uma visão incrível sobre a savana e sobre o rio que serpenteia logo ali à nossa frente.


O verdadeiro highlight do hotel, para além das sopas (que sopas fantásticas), era aquela área construída sobre estacas e que proporcionava a visualização de verdadeiros filmes de vida selvagem logo ali à mão de semear, como se de um cinema se tratasse!!!
Foi para aqui que nos dirigimos assim que nos despachámos e tivémos a oportunidade de assistir a várias cenas curiosas, entre elas uma onde os empregados do hotel atiraram uns pedaços de carne para a margem do rio e onde uns gatos enormes a debicavam... A poucos metros de distância emerge um crocodilo que vagarosamente se aproxima para reclamar aquela carne. Foi bastante curioso, ver a reacção dos gatos, que eu julguei serem do hotel e afinal eram selvagens, a esticar até ao último segundo o momento da retirada estratégica! O mínimo que se podia dizer daquele crocodilo, que era ali residente é que impunha respeito!


Vimos os últimos raios de sol a cair sobre uma árvore "carregada" de marabous!


Restáva-nos um reconfortante jantar para aplacar o evidente cansaço provocado pela "emocionante" viagem desde Nairobi e pela explosão de emoções que vivemos no nosso primeiro dia de safari.

Era hora de descansar, porque o dia seguinte começaria bem cedo, logo às 4 horas da manhã.

Aguardávamos com enorme expectativa esse momento que seria um dos mais inesquecíveis dos que vivemos até hoje:


Um passeio de balão na savana de Masai Mara!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Safari em África... Partida para Masai Mara...

Corria o ano de 2004 e estávamos imensamente felizes depois de ultrapassado todo o stress dos preparativos para o casamento! O dia correu às mil maravilhas e foi um dos dias mais felizes das nossas vidas. Um dia muitissimo bem passado no seio da família e dos amigos onde todos se divertiram até bem de madrugada!
O sentimento era de descontracção total para encarar aquelas 5 semanas que se seguiriam e que ainda nos pareciam mais do que poderíamos ter pedido!!!
Na cabeça fervilhavam todas os documentários da national geographic e todas as imagens das revistas que consultámos para fazermos o plano de viagem. Estávamos curiosos para ver se encontraríamos a força inebriante da paisagem, descrita por tantos apaixonados por África, onde o Sol é maior do que no resto do Planeta, onde o pôr-do-sol nos embondeiros (Baobas) é mágico, onde o cheiro é anestesiante e a força das paisagens um retrato da punjante Natureza tão viciante como cruel!
Os livros dos apaixonados por África como Hemingway ou Karen Blixen foram devorados com prazer redobrado e as imagens do "África minha" não me saíam da cabeça...

Depois da inevitável escala que quase sempre quem sai de Portugal é obrigado a fazer, e depois de 10 horas de viagem de Amsterdão até Nairobi, lá aterramos... É aqui que para mim tudo começa, o caos a confusão e o non sense terceiro mundista, tem um efeito relaxante e revigorante em mim!!! Tal como a primeira lufada de ar pesado, quente e húmido dos países tropicais me provoca um prazer indescritível e não o incómodo tantas vezes relatado, a paisagem do caos, das bagagens que não chegam da falta de condições do aeroporto das horas perdidas nas filas dos vistos, provocam-me o mesmo tipo de prazer! Estou longe da civilização com tudo o que de bom e mau isso implica e por isso estou no meu habitat!
É claro que o nosso transfer já contratado antecipadamente em Portugal não estava lá, mas também é claro que se arranja sempre uma solução! Alguns telefonemas mais tarde e lá seguíamos nós em direcção ao Nairobi Safari Club, o nosso htel que orgulhosamente ostentava uma frase "The only all suite Hotel in Africa!!!" Visto assim, poderá parecer uma maravilha, mas acreditem que o hotel não era propriamente luxuoso... Embora tivesse muita pinta! Um estilo colonial talvez exagerado (embora constatássemos mais tarde que todos os serviços para turista no Quénia são mesmo assim) e onde se notava que já tinham passado melhores dias por ali... Era um hotel "decadente chique" que nos agradou imenso. Não me posso esquecer de estar para aí no 7º ou 8º andar e ver passar à janela um Marabou um passarinho como este:
Também não me esqueço do jantar no primeiro dia no hotel onde após perguntar ao empregado que sopa era aquela tão saborosa este depois de me ter respondido que era uma "crrocodile soup" manteve um ar imperturbável apesar do meu riso. Achei que era uma piada...
"- Isto agora é assim não? chegávamos aqui e lá porque estamos em África começamos logo a comer crocodilos e gazelas não?" Pois viemos a descobrir umas semanas mais tarde que era mesmo verdade...

No dia seguinte de manhã, lá estava o James à nossa espera no átrio do hotel. Com uma ar experiente de velha gazela das planícies africanas acentuado pelas rugas que lhe rasgavam o rosto. Simpático embora reservado, atira-nos em forma de desafio "- Are you ready for a Safari ?" " -Yes we are sir!".
Saímos em direcção ao sul onde o Quénia encontra a Tanzânia e onde o parque Masai Mara se encontra com o Serenghetti.
O Quénia é um dos países mais pobres do mundo, e isso reflecte-se em cada esquina ou em cada caminho. Um dos bairros mais pobres do Mundo onde se calcula que vivam quase um milhão de pessoas fica em Nairobi, chama-se Kibera e aí tudo é extremo: a miséria, a fome, a higiene,... Não é de estranhar por isso que a criminalidade em Nairobi também seja extrema e violenta. Os sinais de miséria vêem-se em todo o lado e materializam-se nos milhares de vendedores de tudo e mais alguma coisa que vagueiam entre o trânsito mais ou menos caótico de Nairobi.

O caminho para o Masai Mara é também ele miserável, com barracas ao longo de grande extensão, com todo o lixo espalhado à porta e em boa verdade, todas as infra-estruturas que vemos que funcionam ou que já funcionaram, são do tempo dos ingleses, porque a sensação é que daí para a frente, tudo estagnou...
As estradas também são do tempo dos ingleses e aprendi que o alcatrão com quase 50 anos evapora!!! A verdade é que não há estrada, mas sim alguns pedaços de alcatrão dispersos entre a terra solta que teima em soltar-se do chão e impedir a visão para além de um palmo do nariz!

Para o James, ou deveria antes dizer Mikael ... Schumaker? Para ele aquela estrada é o autódromo e uma coisa é certa, ele vai ser o primeiro a chegar!!! Os buracos são crateras, não se vê nada, anda-se dos 2 lados da estrada e de vez em quando desviamo-nos de um camião em sentido contrário que faz exactamente a mesma coisa... A "nossa" Toyota Hiace, segue nos vertiginosos 80 a 90 Km/h e parece que se vai desintegrar...

Há medida que nos aproximamos de Masai Mara, a paisagem torna-se nossa conhecida (da televisão claro!), a savana começa a mostrar-se no seu melhor e aqui e alí pensamos ver leões e outros grandes predadores... É a vontade...

Começamos por ver alguns Masai nos seus inconfundíveis tecidos vermelhos.
Mais à frente, girafas!!! e finalmente uma placa indica-nos que estamos prestes a entrar na reserva natural de Masai Mara!!!

Começa agora a cumprir-se parte de um sonho antigo!

Que comece o Safari !!!

Safari em África... um sonho antigo...

Foram muitos os anos em que nos perdemos nas imagens e nos sonhos que queríamos concretizar materializados naqueles catálogos fantásticos que anualmente e religiosamente levantávamos na antiga Nouvelles Frontiéres na Avenida Tomás Ribeiro em Lisboa.



Estes catálogos eram para nós uma janela de sonhos e excitação, com as viagens, julgávamos nós, impossíveis para destinos exóticos e distantes. Nestes catálogos víamos Viagens que não existiam nas outras agências, que despertavam em nós uma vontade enorme de partir. Era porventura já um gene nosso de Viajante que despontava, mas que chocava sempre com a triste realidade económica de 2 estudantes falidos!!!



Mas cedo percebemos, que não custa sonhar, e já que sonhamos, que sonhemos com aquilo que nos faz verdadeiramente felizes!!!



Foi como estudantes falidos, e com uma enorme vontade de viajar que começámos a pensar numa simples viagem a Londres. Para realizarmos essa viagem não tínhamos qualquer alternativa: Tínhamos que pôr mãos à obra e começar a trabalhar! Muitas entrevistas de estudo de mercado fizemos nós para a Intercampus ali na Baixa. Muitas horas de promoções de perfumes fez a Xana nas Amoreiras e outros centros comerciais, passagens de modelos de pijamas para retalhistas no Hotel Fénix no Marquês de Pombal e até dias inteiros vestida de pijama na Fil na Moda Lisboa... Muitos caixotes acartei eu às costas nas madrugadas das 5as feiras e Domingos a descarregar os camiões completos de roupa que chegavam à Zara no Colombo... Hoje parece impossível, mas trabalhei mais de um ano e meio na Zara e ainda hoje me dá vontade de rir ao relembrar o telefonema que fazia nos dias de camião:"Fala da Zara do Colombo?... daqui fala o Gonçalo do camião! a que horas chega hoje a mercadoria?"



Muitas horas de esforço mútuo, sendo que todos os escudos eram poupados religiosamente! (Sim eu ainda sou do tempo dos escudos :-)



Foram tantas as horas que trabalhámos que chegámos à conclusão que tínhamos dinheiro para mais do que uma Viagem a Londres, e num velho catálogo da agência Tagus (a agência dos estudantes falidos onde se compravam os bilhetes de interrail) vimos umas fotos fantásticas de praias paradisíacas nas Maldivas!!! Na altura lembro-me falar nas Maldivas e quase ninguém conhecia, perguntavam-me o que é que eu ía fazer para as Malvinas... Quem diria hoje que pouca gente conhecia as Maldivas na altura...



Foi amor à primeira vista e estava garantida excitação máxima com todos os preparativos para essa Viagem!



Já com tudo tratado e o sinal pago na Tagus, sempre na dúvida se o dinheiro chegaria para tão ambicioso empreendimento, o balde de água fria! A nossa viagem foi cancelada por não arranjarmos võo de ligação para a Zurique!!! Fizémos tudo bem, com meses de antecedência, a excitação era enorme e no final uns incompetentes da operadora (ou da agência, nunca soubemos) estragavam o nosso sonho!!!



Corria o ano de 1998 e passar-se-iam 2 anos até voltarmos a "agarrar" esta Viagem. Pelo meio um interrail e um Erasmus na Suécia "atrasaram" este nosso sonho.



Foi pois 2 anos mais tarde que recorremos à Nouvelle Frontiéres, apaixonados que estávamos há anos pelos catálogos, especialmente o "circuits" e fomos tratados divinalmente naquela que seria uma relação fantástica, especialmente por causa do Diogo, um fantástico profissional que sempre tratou de nós com imenso esmero, dedicação e empenho! Relação essa que dura até hoje, se bem que "atraiçoada" aqui e ali pelas imensas hipóteses que a internet veio colocar à disposição dos viajantes...



Mas o que me levou a esta introdução, não foi a Viagem às Maldivas, hei de voltar a ela um dia destes, mas sim a relação com a Nouvelle Frontiéres (agora Tui) que nos organizou já em 2004 o nosso Safari em África... Lembro-me de ver o catálogo e sonhar com aqueles Safaris que me apresentavam, que me levavam a olhar de outra forma para o Francês e que me chocavam com a triste realidade de não poder fazê-los...



Já era um sonho antigo e como se tratava de uma Viagem mais cara, aproveitámos para a fazer na Lua de mel! "Compramos menos móveis e vamos!!! dizíamos excitados!!!"



Assim começou este nosso Safari. O plano era fazermos Safari no Quénia e na Tanzânia para depois relaxar nas praias de Zanzibar e já agora porque não um mergulhinho nas Maurícias e espera lá, se fazemos escala em Amsterdão, já agora ficamos lá 4 ou 5 dias...



Preparámos 5 semanas de Viagem, aproveitando as férias todas e mais uns dias da licença de casamento...



Contávamos visitar as reservas de Masai Mara e Lago Nakuru no Quénia e as reservas de Tarangire, Lago Manyara, Serenghetti e Ngorongoro na Tanzânia. Os hoteis seria uma mistura de Sopa Lodges e Serena Lodges, cadeias de hoteis que existiam em quase todas as reservas (a nossa preferência ía para os Serena, mais casuais e intimistas do que os mais luxuosos Sopa) e o fantástico Mara Simba no Masai Mara!



A nossa "base" seria Nairobi no cinematográfico e decadente chique Nairobi Safari Club!



Daqui partiríamos para o Kilimanjaro na Tanzânia, regressaríamos de Zanzibar e voltaríamos para voltar a partir para as Maurícias. Mais um regresso e desta vez quase a casa, com uma escapadinha a Amsterdão. Nos intervalos, deu para ir jantar ao mundiamente famosos Carnivore! Foi pena não termos aproveitado mais Nairobi, tal foi o medo que nos meteram com a criminalidade, porque gostaríamos de ter visitado a quinta de recuperação dos elefantes orfãos, a quinta das girafas ou a casa da Karen Blixen. Fica um motivo para um regresso no futuro... Éramos mais tenrinhos, se fosse hoje não tínhamos falhado estes "highlights"



Estavamos casados e "abençoados" e era hora de partir!

2011 Novo ano, novos e mais posts...

Chegado o ano novo é altura de introspecções e planos para o futuro...

É aqui que sempre dizemos que vamos fazer mais e melhor, que vamos ser mais aplicados, mais trabalhadores, vamos deixar de fumar :-) etc...

Com o Diogo aí a caminho, o meu ano quanto a planos para o futuro está garantido, resta saber se consigo cumprir tudo o resto...

Mas aproveitando esta onda de optimismo, prometo ser menos preguiçoso aqui no blog e postar mais vezes as peripécias e os "diários" das nossas viagens passadas, sim porque as futuras, estão obviamente muito comprometidos nos próximos tempos!!!

Assim, muito brevemente vou começar a escrever sobre uma inesquecível viagem de um Safari pelo Quénia e pela Tanzânia, com um saltinho para relaxar a Zanzibar e às Maurícias...

Até Já!