sábado, 22 de março de 2008

Pequim, a Grande Muralha da China

Este era um dos dias mais aguardados da viagem. O motivo era óbvio. A grande muralha é motivo de espanto para todos, quer seja pela sua dimensão, idade, número de trabalhadores que por lá passaram e… que por lá morreram.


Existem inúmeras histórias sobre a grande muralha, muitas não passam de mitos e lendas, mas isso apenas contribui para a inapelável mística que a torna consensualmente numa das 7 maravilhas do mundo… moderno. Sim porque ao contrário do que muitos pensarão, a Grande Muralha, não pertence à lista das 7 maravilhas do mundo antigo. A única maravilha do mundo antigo ainda existente e que é obviamente também uma das maravilhas do mundo moderno são as pirâmides de Gize. Estas 2 maravilhas serão provavelmente as únicas universalmente consensuais de toda a lista recentemente divulgada. Pela parte que me toca, quando se fala de maravilhas do mundo, fico até ofendido quando colocam a estátua da liberdade, a torre Eiffel, o Cristo redentor ou a ópera de Sidney…

Mas voltando à Grande Muralha, ou melhor às “grandes muralhas”, já que esta é composta por vários troços que não estão ligados entre si e que perfazem aproximadamente 7000 Km. Esta distância também é algo controversa, mas para o certificarmos, nada melhor do que a percorrer a pé como um aventureiro inglês, que levou “apenas” 3 anos para o fazer.

A grande muralha começou a ser construída em 220 A.C. Inicialmente foi a junção de várias muralhas já existentes que ao longo dos séculos foi sendo ampliada até atingir o seu auge no início da dinastia Ming. Empregou mais de 1 milhão de trabalhadores e 250000 terão dado a sua vida para que este colosso fosse uma realidade.


Existem vários troços restaurados nas proximidades de Pequim. O mais conhecido será Badaling, mas é também o mais concorrido. Nós visitámos o troço de Juyongguan. Saímos bem cedo de Pequim em direcção à grande muralha. Estávamos obviamente muito entusiasmados, por irmos pisar aquele local mágico. Não nos livrámos de parar numa loja monumental de jade, onde a tradicional táctica de nos levar a ver a fábrica e como são feitas as peças é apenas um pequeno pretexto para nos fazer gastar grandes somas de dinheiro! Já habituados a estes esquemas, deixámo-nos levar inicialmente, porque podia ser que existisse algo realmente interessante, mas depois de ver o que era, e visto que fazíamos uma excursão privada, não levou mais de 5 minutos para estarmos no carro de volta ao percurso original.

À medida que nos aproximávamos, a paisagem tornava-se cada vez mais irregular. Quanto mais acidentada se tornava, mais impressionante nos parecia aquela monumental “serpente” que parecia capaz de transpor qualquer obstáculo.

A nossa ansiedade tornava-se mais evidente, e assim que parámos, dirigimo-nos apressadamente para a base da muralha. Tínhamos pressa em saciar a curiosidade, em nos perdermos naquelas místicas entranhas, em ver mais além e até quem sabe onde acabaria a muralha…


A paisagem era verdadeiramente impressionante. É certo que o local e a mística a que este nos transporta amplifica todos os sentimentos, mas olhando para a geografia do terreno, é impossível não ficar espantado com o génio e engenho que possibilitou a construção daquela maciça muralha em local tão inóspito.

Embora restaurada, a muralha não é de fácil escalada, por força da enorme inclinação e da dimensão dos degraus. Por vezes o simples acto de voltar a cabeça para trás dá-nos vertigens. Vamos avançando com vigor, até porque tínhamos de cumprir a ordem de Mão Tsé Tung que disse em tempos que “quem não escalasse a Grande Muralha não seria um verdadeiro Homem”. Nós seríamos verdadeiros Homens… embora algo debilitados nos dias seguintes. Queríamos atingir o ponto mais alto daquele troço, mas sempre que o alcançávamos, um outro escalava um pouco mais a montanha…

Não atingimos o topo da montanha, mas no auge do cansaço, acho que atingimos o topo da felicidade. Pela paisagem, pela mística, pela história, pela liberdade, no fundo por ali estarmos e sentirmos por breves instantes que estávamos a fazer parte da História.

Algumas horas depois, chegámos de novo à base, sentindo que tínhamos atingido mais um marco no nosso percurso de viajantes. Conhecemos mais pessoas, mais lugares e assim enriquecemos a nossa Vida… ou a nossa Viagem.

Seguimos para os túmulos Ming, um local sagrado onde os imperadores da Dinastia Ming eram sepultados, mas antes disso, era altura de parar num dos muitos locais para turistas, enormes, sem gosto, para todos, obrigatórios, muito… chineses! O almoço seria ali mesmo. Na China todos fazem o mesmo. É turista então vai ali, vai acolá, faz o que é obrigado a fazer e não o que quer fazer. Para isso, faz-se um gigantesco local para acolher os milhares de turistas. Não é bonito? É cinzentão? Então tem 2 opções, queixa-se e vai para as pedreiras do noroeste da China durante 50 anos de trabalhos forçados ou come e cala e segue a sua vidinha!


Nos túmulos Ming, estão enterrados 13 dos 16 imperadores desta dinastia. Consta que existem riquezas incalculáveis enterradas juntamente com os imperadores, já que nesta altura, estes se faziam acompanhar de todo o seu séquito e grande parte das suas riquezas e objectos pessoais, para encarar a vida futura… Na realidade mais do que consta, existem dados concretos para este facto, dado que um dos túmulos foi aberto e as riquezas retiradas, deixaram todos boquiabertos. Parte desse “saque”, está patente no museu existente no local. É aliás o único motivo válido da visita, porque quanto ao resto, não existe muito mais para ver.


Seguimos. Em conversa com a guia, confessei o meu gosto pelo chá. Foi assim que nos propuseram uma visita a uma casa de chá, onde poderíamos assistir a uma cerimónia completa do ritual chinês do chá. Fantástico. Ora aqui estava uma boa surpresa! Num final de tarde após uma escalada cansativa, estaríamos descansadinhos a beber um chá acompanhando o ritual à risca.

O local era uma casa típica chinesa, com os tradicionais pátios interiores e com as gaiolas dos pássaros penduradas. Lá entrámos num pagode, e dirigimo-nos para uma mesa onde uma simpática chinesa, lidava com os mais variados utensílios. Depois das formais apresentações, começámos a nossa odisseia ao mundo do chá. Começando no chá preto (na china a tradução é chá vermelho), passando pelo oolong, seguindo para o verde e para o branco. Umas rosas para adocicar. Óptimo. Ao contrário do que seria expectável, sorver ruidosamente o chá, faz parte da etiqueta do ritual do chá. Caso contrário, é porque não estamos a gostar… Sorvemos o chá ruidosamente, porque obviamente… gostámos!

Vamos então regressar a Pequim onde nos esperava um espectáculo para ver. Kung Fu, um interessante espectáculo teatralizado, onde entre a história e a lenda do primeiro mestre de Kung Fu, tivemos a oportunidade de ver alguns golpes estonteantes.

Ainda antes de chegarmos, passámos pelo local da futura cidade olímpica, onde o pavilhão das piscinas, todo forrado de “bolhas” e o “ninho” como é chamado o estádio olímpico, demonstravam a irreverência arquitectónica que acompanha a aventura olímpica.