quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Gili Islands, o paraíso à espreita...


Há dias que jamais esqueceremos, este será um deles!

Embora reprimíssemos um pouco as nossas expectativas, ao pequeno almoço já era evidente o nosso estado de excitação para o que nos esperaria nesse dia!

A juntar a tudo o que já tínhamos lido ao relato dos italianos, por mais pessimistas que fôssemos, algo de muito bom haveria de existir! Afinal a aventura começava logo na viagem de barco tradicional até às ilhas Gili, ao longo de toda a costa oeste de Lombok! O busílis foi quando percebi na conversa da Xana, que ela não tinha entendido em que “embarcações” é que íamos viajar… 

Quando tentei dizer-lhe suavemente que talvez não fosse uma “embarcação muito sofisticada” saiu-lhe logo “ – Se for naquelas cascas de noz em forma de aranhiço não vou!”

Como é que eu ía explicar que os “aranhiços” esperavam por nós…



Tomei a melhor opção! Optei pela covardia e não disse nada J

Afinal se contasse, corria o risco de nem chegar à praia e esta aventura eu não queria mesmo perder!

Pelo caminho fui optando pelo “ – Não deve ser, mas se for até era giro!”

Foi com o terror estampado na cara que a Xana encarou o aranhiço quando chegámos à praia, com o sorridente Echo a convidá-la para subir…

As minhas desesperadas tentativas para convencer a Xana “ – Bora lá! Vais ver que é óptimo!” surtiram algum efeito porque a Xana num assomo de coragem saltou lá para dentro!

Bem agora era aproveitar antes que fosse tarde, eu o Echo e mais uns tantos pescadores empurrámos o aranhiço para dentro de água e saltámos lá para dentro!

Agora era o que Deus quisesse, já não havia nada a fazer! Literalmente embarcámos nesta aventura! A tripulação era escassa, para além de nós, o Echo munido de equipamentos de snorkeling para todos e o piloto. Era certo que estávamos a caminho do Paraíso, mas a Xana ainda teria de passar primeiro pelo purgatório J

O aranhiço com o seu motor ecológico J, era surpreendentemente estável. Os troncos que lhe conferiam aquela aparência eram high tech, aplacando o balanço do barco e lá fomos seguindo com aquela paisagem deslumbrante da costa completamente virgem até nos separarmos da ilha de Lombok para apontarmos ao mar-alto rumo às Gili perdidas no meio do oceano.



As Gili são na realidade 3 atóis (as melhores praias do mundo são quase sempre atóis!). Gili Trawagan, Gili Meno e Gili Air, por esta ordem de grandeza e também da nossa visita.

À medida que nos aproximámos das ilhas, percebemos imediatamente que aqui sim, teríamos praias verdadeiramente paradisíacas à nossa disposição! Vegetação luxuriante, areia que por ser de coral é bem rija e branca, conferindo aquela fabulosa tonalidade turquesa aos baixios junto à costa que felizmente era pontilhada de centenas de corais que albergavam uma divinal vida subaquática!



Chegámos ao paraíso!

Desembarcámos na Gili Trawagan onde não existem veículos motorizados, sendo todo o transporte de pessoas e mercadorias realizado por uns castiços carros de bois.

Havia um conjunto de pequenos hotéis e bungalows que permitem uma estadia mais prolongada neste pedaço de éden… (como gostaria de ter ficado!)


Depois de um pequeno passeio na ilha para absorver calmamente tudo o que nos rodeava, voltámos à praia para o tão aguardado snorkeling! A Xana nesta altura ainda não se sentia confortável com o snorkeling e por isso ficou “apenas” a disfrutar de uma praia idílica J

O Echo já tinha explicado que a vida marinha aqui era bastante abundante, já que entre esta ilha e a ilha em frente, a Gili Meno, passa um canal carregado de nutrientes na corrente marítima.

Disse que depois iríamos mergulhar na ilha em frente, a Gili Meno, onde seguramente avistaríamos tartarugas!

Assim que coloquei a máscara dentro de àgua, senti-me uma criança a entrar na terra da fantasia!

A explosão de cor, a variedade de corais, a quantidade de peixes multicolores e os seus reflexos, a adrenalina… Parecia uma imagem saída do meu desejo, como se de um sonho se tratasse, e não uma imagem real como de facto era!

Ainda mal refeito da emoção, já o Echo me apontava para uma tartaruga que no seu ritmo pachorrento, deslizava junto aos corais!

Que visão extraordinária! Pela primeira vez via uma tartaruga dentro de água! Ainda ontem lançava uma ao mar e já hoje acompanhava uma das suas ancestrais! Era perfeitamente audível o som provocado pelas trincas nos corais…

A liberdade que se sente no snorkeling, é algo de extraordinário, e aqui ainda mais. O sentimento misto de excitação, pelo cenário, pelas cores, pelos movimentos e também pela adrenalina e o receio constante de um encontro com um tubarão tanto desejado como temido!

A ausência de gravidade provoca-nos uma letargia libertadora. Flutuando ao sabor da corrente vou vendo peixes palhaço que nos olham através das anémonas, peixes papagaio, peixes agulha, e uma miríade de peixes de todas as cores que nos ofuscam com os reflexos quase florescentes provocados pelo seu movimento ritmado.

Estava eu completamente e literalmente mergulhado neste cenário surreal, quando o Echo me aparece com um peixe na mão!

Era um desgraçado de um peixe balão, que lentamente foi inchando, mais do que triplicando o seu tamanho, dando razão ao seu nome! De repente tínhamos ali um balão com umas minúsculas barbatanas dorsais e uns olhos esbugalhados que lhe conferiam um ar cómico. Quando o Echo o largou, lá foi o peixe "vazando" o balão, com a sensação de se ter livrado destes predadores...

Após alguns mergulhos neste local, seguimos de barco para o meio do canal entre as 2 ilhas, Gili Trawagan e Gili Meno para fazermos mais um mergulho fenomenal!



A minha excitação era total, e ao partilhá-la com a Xana, soube mais tarde que estive quase quase a convencê-la a vir comigo! A vontade dela quase que suplantou o receio e foi por pouco. Era só insistir mais 
um bocadinho!


Ela ficou no barco, e eu lá fui seguir algumas tartarugas verdes e tartarugas de couro, achando sempre que sonhava acordado...
O plano era seguir para a costa da Gili Meno, onde nos esperavam umas palhotas para almoçarmos, confortavelmente sentados entre almofadas... 


É difícil descrever a felicidade de estar no meio do mar, após todo o espetáculo subaquático, e olhar para uma ilha tropical, com uma praia fantástica, deserta e com águas cristalinas, onde nos espera um almoço tranquilo numas palhotas autênticas, muito tribais e carregadas de simbolismo onde meia dúzia de privilegiados chegam com o sentimento de estarem a viver um dos dias mais felizes das suas vidas!



Algum marisco depois, vamos dar uma volta à ilha, seguindo pelas suas margens onde praias desertas nos recebem de braços abertos. Vamos pisando a dura areia branca e passamos por autênticos cemitérios de corais que vão dando à costa...


Vemos aqui e ali,crianças dando largas à sua alegria, sem que saibam que vivem num paraíso natural...



Sabemos que estamos num dos melhores cenários de praia por nós vividos e aproveitamos cada momento...

Mais para o meio da tarde, voltamos ao nosso aranhiço, para visitar a última e a mais pequena das ilhas, a Gili Air, que mantém inegavelmente todos os atributos das suas irmãs!



Aqui, a Xana rendeu-se aos encantos do Snorkeling e veio comigo pela primeira vez experimentar este autêntico vício, que felizmente também se apoderou dela e que tantos momentos fascinantes nos proporcionou depois desta sua primeira experiência!

De mão dada a flutuar, lá seguimos, perante o espanto e a incredulidade da Xana. Também ela não queria acordar daquele sonho...

Pela primeira vez viu a magnitude daquele espetáculo! Ultrapassado o medo e as dificuldades com a respiração e o tubo, nunca mais falhou uma "snorkeling trip" -)


Exaustos mas felizes, partimos contrariados no nosso aranhiço de volta a Lombok! Nem o susto que apanhámos no regresso, já quase na praia do nosso hotel onde uma onda inesperada quase conseguiu voltar o aranhiço, foi suficiente para estragar o dia.

Apoderou-se de nós o silêncio, o silêncio contemplativo daquela paisagem que queríamos registar de forma inesquecível nas nossas memórias...



Um silêncio quase incomodado. Envergonhado pela felicidade transbordante que sentíamos... Era maior do que merecíamos, do que sonháramos... Silêncio... Fica para nós guardado nos registos dourados das nossas experiências... o nosso tesouro... a nossa Vida...

Não precisamos falar, uma mística telepatia, só alcançável nos grandes momentos encarrega-se do diálogo entre nós...

São dias destes que nos preenchem, que nos fazem sentir livres e com um Mundo inteiro para descobrir!

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