sexta-feira, 16 de maio de 2008

O último dia em Pequim

Reservámos o último dia completo em Pequim para visitar mais 2 pérolas do vasto património existente: O palácio de Verão e o templo do céu.

Ainda a manhã despertava e já nos encontrávamos no táxi a caminho do palácio de Verão. Embora este local fosse há muito um refúgio dos imperadores para o calor opressivo que se fazia sentir na cidade proibida nos meses estivais, só no século XVIII, ganhou as actuais dimensões. Na entrada os imponentes leões e figuras mitológicas guardam os portões sagrados do palácio.


O estilo é tradicional, predominando o vermelho e os telhados em forma de pagode. Trata-se de mais um complexo palaciano de grandes dimensões, dominado pelos extensos lagos artificiais e jardins envolventes. Não falta sequer um barco de mármore no meio do lago, que representa acima de tudo o alheamento da realidade que sofria a imperatriz Cixi, delapidando os já de si pouco recheados cofres do estado num claro sinal de decadência no ocaso da dinastia Ming.


Hordas de turistas chineses invadem literalmente o palácio de Verão. No curioso “longo corredor”, carregado de pinturas e figuras representativas da mitologia chinesa, que ladeia o lago Kumming, milhares de pessoas descansam dos longos passeios que o palácio proporciona.

O complexo é suficientemente grande e arejado para disfarçar a massificação de turistas. Vamos visitando os vários pavilhões onde outrora a faustosa corte se instalava e que agora se encontram repletos de objectos pessoais pertencentes aos imperadores e ao seu séquito.

Embora curiosas, as exposições que percorremos não são especialmente fascinantes. O melhor mesmo é o passeio pelo parque, a arquitectura exótica dos vários palácios e templos, o passeio de barco pelo lago e a fantástica ponte dos 17 arcos.

A dimensão e a curiosidade levam-nos uma manhã na visita ao palácio. A aproximação da hora do almoço leva-nos a seguir para o templo do céu, e a procurar um restaurante nas imediações.

Por curiosidade e sem o sabermos, acabamos por almoçar num restaurante que soubemos posteriormente servia um prato típico chinês: O “hot pot”. Uma panela cheia de água, que se colocava a ferver com uma inestética bilha de gás colocada debaixo da mesa. Ao estilo fondue, travessas de finas fatias de carne, vegetais, massas e outros condimentos que não sabíamos identificar eram colocados na panela, cozinhados ao nosso gosto e acompanhados com uma apetitosa pasta de amendoim. Apenas entrámos movidos pela curiosidade e pelo facto de não existir um único turista no restaurante. Aliás nem sequer parecia um restaurante. Mas o mais interessante, foi que quando demos por nós, tínhamos à nossa volta imensos chineses simpáticos e voluntariosos, que nos davam indicações de como preparar a comida, o que deveríamos colocar primeiro e que quando se afastavam continuavam a observar-nos entre sorrisos complacentes e trocistas.

Mais satisfeitos com a experiência do que com a comida seguimos para o templo do céu que se encontrava a escassos metros do local.

O Templo do céu é um verdadeiro ícone de Pequim, aparecendo inúmeras vezes como símbolo da cidade. É o melhor exemplo da arquitectura Ming e está carregado de simbolismos próprios da época em que o filho do céu, o imperador, aqui vinha pedir boas colheitas, clarividência e o melhor para o seu povo.

Desde as bases quadradas dos templos e os topos redondos simbolizando respectivamente a terra e o céu até às construções envolvendo o número 9, o maior dos números primos, considerados celestiais, o templo do céu possui um pouco de todo o simbolismo e ritualidade praticada na dinastia Ming.

Foi uma boa forma de acabar o nosso circuito “monumental” em Pequim! O templo do céu e o parque envolvente têm uma harmonia própria dos espaços religiosos e ao afastarmo-nos dali com os templos redondos e os seus patamares característicos de telhas pretas, foi inevitável pensar que aqueles dias em Pequim nos tinham proporcionado momentos inesquecíveis, e que embora fossem para nós já conhecidos das revistas e dos guias, na realidade a nossa expectativa tinha sido suplantada.

A nossa estadia em Pequim, não poderia estar completa sem antes nos perdermos numa paixão que fomos ganhando com as viagens pela Ásia: o chá. Estávamos na pátria do chá e por isso, não existia local melhor para o comprar!

Tínhamos reparado dias antes que à saída do Templo dos Lamas, existia uma magnífica oferta de lojas de chá e por isso foi para lá que nos dirigimos.

As lojas de chá são surpreendentes. Com um aspecto moderno e inovador, fazem lembrar as nossas farmácias, dado o ar profissional dos prestáveis empregados, que equipados a rigor com luvas e batas brancas medem em rigorosas balanças de precisão algumas gramas dos delicados chás e infusões que pedimos.

A variedade de chás, infusões e acessórios para o chá e para o seu ritual é extravagante. A variedade dos preços também. Para o mesmo tipo de chá os preços chegam a atingir valores verdadeiramente proibitivos; 1000 a 1500 euros o quilo! Aprendemos que o Pu-er, um chá prensado que vai fermentando ao longo dos anos, funciona da mesma forma que para nós por exemplo o vinho do Porto, havendo reservas que são verdadeiras preciosidades e objecto de colecção.

Jasmim, oolong, chá verde, botões de rosas, Pu-er, e outras infusões de difícil tradução, foram algumas das especialidades que comprámos, para desta forma perpetuarmos durante muito tempo a nossa estadia em Pequim entre deliciosas chávenas de chá em Lisboa.

Acabávamos a nossa visita em Pequim num vulgar restaurante nas imediações no Templo dos Lamas. Era hora de pensar no que se seguia: Xian, a cidade imemorial do império do meio e do seu famoso exército dos cavaleiros de terracota.

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