Corria o ano de 2004 e estávamos imensamente felizes depois de ultrapassado todo o stress dos preparativos para o casamento! O dia correu às mil maravilhas e foi um dos dias mais felizes das nossas vidas. Um dia muitissimo bem passado no seio da família e dos amigos onde todos se divertiram até bem de madrugada!
O sentimento era de descontracção total para encarar aquelas 5 semanas que se seguiriam e que ainda nos pareciam mais do que poderíamos ter pedido!!!
Na cabeça fervilhavam todas os documentários da national geographic e todas as imagens das revistas que consultámos para fazermos o plano de viagem. Estávamos curiosos para ver se encontraríamos a força inebriante da paisagem, descrita por tantos apaixonados por África, onde o Sol é maior do que no resto do Planeta, onde o pôr-do-sol nos embondeiros (Baobas) é mágico, onde o cheiro é anestesiante e a força das paisagens um retrato da punjante Natureza tão viciante como cruel!
Os livros dos apaixonados por África como Hemingway ou Karen Blixen foram devorados com prazer redobrado e as imagens do "África minha" não me saíam da cabeça...
Depois da inevitável escala que quase sempre quem sai de Portugal é obrigado a fazer, e depois de 10 horas de viagem de Amsterdão até Nairobi, lá aterramos... É aqui que para mim tudo começa, o caos a confusão e o non sense terceiro mundista, tem um efeito relaxante e revigorante em mim!!! Tal como a primeira lufada de ar pesado, quente e húmido dos países tropicais me provoca um prazer indescritível e não o incómodo tantas vezes relatado, a paisagem do caos, das bagagens que não chegam da falta de condições do aeroporto das horas perdidas nas filas dos vistos, provocam-me o mesmo tipo de prazer! Estou longe da civilização com tudo o que de bom e mau isso implica e por isso estou no meu habitat!
É claro que o nosso transfer já contratado antecipadamente em Portugal não estava lá, mas também é claro que se arranja sempre uma solução! Alguns telefonemas mais tarde e lá seguíamos nós em direcção ao Nairobi Safari Club, o nosso htel que orgulhosamente ostentava uma frase "The only all suite Hotel in Africa!!!" Visto assim, poderá parecer uma maravilha, mas acreditem que o hotel não era propriamente luxuoso... Embora tivesse muita pinta! Um estilo colonial talvez exagerado (embora constatássemos mais tarde que todos os serviços para turista no Quénia são mesmo assim) e onde se notava que já tinham passado melhores dias por ali... Era um hotel "decadente chique" que nos agradou imenso. Não me posso esquecer de estar para aí no 7º ou 8º andar e ver passar à janela um Marabou um passarinho como este:
Também não me esqueço do jantar no primeiro dia no hotel onde após perguntar ao empregado que sopa era aquela tão saborosa este depois de me ter respondido que era uma "crrocodile soup" manteve um ar imperturbável apesar do meu riso. Achei que era uma piada...
"- Isto agora é assim não? chegávamos aqui e lá porque estamos em África começamos logo a comer crocodilos e gazelas não?" Pois viemos a descobrir umas semanas mais tarde que era mesmo verdade...
No dia seguinte de manhã, lá estava o James à nossa espera no átrio do hotel. Com uma ar experiente de velha gazela das planícies africanas acentuado pelas rugas que lhe rasgavam o rosto. Simpático embora reservado, atira-nos em forma de desafio "- Are you ready for a Safari ?" " -Yes we are sir!".
Saímos em direcção ao sul onde o Quénia encontra a Tanzânia e onde o parque Masai Mara se encontra com o Serenghetti.
O Quénia é um dos países mais pobres do mundo, e isso reflecte-se em cada esquina ou em cada caminho. Um dos bairros mais pobres do Mundo onde se calcula que vivam quase um milhão de pessoas fica em Nairobi, chama-se Kibera e aí tudo é extremo: a miséria, a fome, a higiene,... Não é de estranhar por isso que a criminalidade em Nairobi também seja extrema e violenta. Os sinais de miséria vêem-se em todo o lado e materializam-se nos milhares de vendedores de tudo e mais alguma coisa que vagueiam entre o trânsito mais ou menos caótico de Nairobi.
O caminho para o Masai Mara é também ele miserável, com barracas ao longo de grande extensão, com todo o lixo espalhado à porta e em boa verdade, todas as infra-estruturas que vemos que funcionam ou que já funcionaram, são do tempo dos ingleses, porque a sensação é que daí para a frente, tudo estagnou...
As estradas também são do tempo dos ingleses e aprendi que o alcatrão com quase 50 anos evapora!!! A verdade é que não há estrada, mas sim alguns pedaços de alcatrão dispersos entre a terra solta que teima em soltar-se do chão e impedir a visão para além de um palmo do nariz!
Para o James, ou deveria antes dizer Mikael ... Schumaker? Para ele aquela estrada é o autódromo e uma coisa é certa, ele vai ser o primeiro a chegar!!! Os buracos são crateras, não se vê nada, anda-se dos 2 lados da estrada e de vez em quando desviamo-nos de um camião em sentido contrário que faz exactamente a mesma coisa... A "nossa" Toyota Hiace, segue nos vertiginosos 80 a 90 Km/h e parece que se vai desintegrar...
Há medida que nos aproximamos de Masai Mara, a paisagem torna-se nossa conhecida (da televisão claro!), a savana começa a mostrar-se no seu melhor e aqui e alí pensamos ver leões e outros grandes predadores... É a vontade...
Começamos por ver alguns Masai nos seus inconfundíveis tecidos vermelhos.
Mais à frente, girafas!!! e finalmente uma placa indica-nos que estamos prestes a entrar na reserva natural de Masai Mara!!!
Começa agora a cumprir-se parte de um sonho antigo!
Que comece o Safari !!!
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