sábado, 26 de dezembro de 2009

Palácio Potala, pura magia!

Embora a habituação à altitude, não seja um grande problema, pelo menos para nós não foi, parece existir sempre uma sensação estranha dificil de explicar, que se assemelha a uma leve tontura mas que não é constante. Sempre que estivemos na rua, mesmo quando faziamos esforços um pouco maiores, nunca o sentimos, mas acontecia um fenómeno estranho, sempre que subíamos o patamar de escadas no hotel que nos levava ao nosso quarto. Chegávamos sempre com uma sensação mista de embriaguês e desmaio. Deve ser mais um daqueles fenómenos místicos e carregados de magia, que nunca vamos saber explicar e que são tão característicos dos mitos e lendas tibetanas...

Depois de uma noite sem as características insónias da adaptação à altitude, aconchegámos o estômago com o óptimo pequeno almoço do Dhood Gu Hotel


Hoje o dia seria muito mais calmo que o anterior. Tínhamos apenas a visita ao Palácio Potala. Infelizmente, só conseguimos ficar 4 dias completos em Lhasa, sendo que o primeiro, foi gasto na adaptação à altitude. Nos restantes três dias, tínhamos previsto visitar o Jokhang e o Barkhor, Sera, Norbulinka, Palácio Potala, Drepung e Ganden. Se o fizéssemos, teríamos visitado todos os pontos mais importantes em Lhasa e arredores. Não o fizémos, porque retirámos Ganden do nosso itinerário. Ganden fica a 40 Km de Lhasa, só que nesta zona, a mais pequena viagem leva uma eternidade. Estando na alta montanha, todos os caminhos se tornam extremamente longos e demorados. Esta visita, levar-nos-ia praticamente um dia inteiro. Pensámos em fazê-lo, mas perderíamos aquilo que tanto gostamos de fazer: simplesmente deambular sem rumo pelos locais e deixarmo-nos envolver pelos hábitos e costumes locais.

Era o que a manhã nos reservava. Resolvemos simplesmente deambular sem rumo pelas ruas de Lhasa e ver o que estas tinham para nos oferecer. Partíamos sem exigências, dado que já tínhamos recebido muito mais do que esperávamos. Por isso mesmo, voltámos ao Barkhor e voltámos a fazer o percurso sagrado dos peregrinos. Voltámos a misturar-nos com eles parecendo que por vezes fazíamos parte de algum enredo de um filme medieval. Voltámos a surpreender-nos com a diversidade de feições e de vestuário que por ali fomos vendo.

Lhasa é uma cidade com duas caras, a tibetana, tradicional, bonita e mística e a chinesa, feia, incaracterística e impessoal.

Os chineses transformaram a parte nova da cidade num supermercado típicamente chinês, sem qualidade, esteticamente intragável, cheio de bugigangas e bonecos de gosto duvidoso que os chineses tanto apreciam. Os chineses possuem o monopólio do comércio, sobrando para os tibetanos, que serão porventura uma minoria em Lhasa, os cargos menores.

Para mim existe um pormenor que embora sendo pouco importante em todo o contexto da relação da China com o Tibete, é reveladora da total falta de sensibilidade e bom senso com que os chineses tratam os tibetanos e a sua cultura: O Palácio Potala, está aberto aos peregrinos que visitam regularmente as suas inúmeras capelas. No entanto, foi introduzida uma mudança de itinerário, que obriga os peregrinos a percorrerem os templos no sentido contrário dos ponteiros do relógio o que contraria a sua milenar tradição. Este pormenor que parece ser ridículo para nós não o é para quem conhecer a sólida tradição tibetana e é exactamente por ser um pormenor que o torna mais baixo e mais mesquinho. O interessante é que para "resolver" este problema, os peregrinos fazem o percurso do final para o início!

Na nossa "peregrinação" por Lhasa, concentrámo-nos apenas na parte tibetana, onde comprámos algum artesanato e almoçámos. Partímos a pé para o palácio Potala, onde nos encontraríamos com o "simpático" guia que nos aguardava à entrada.

O guia todos os dias ao final da tarde ligava para o nosso hotel, o que muito nos desagradava. Queria saber o que tínhamos feito durante o dia, por onde andáramos, etc. Faláva com ele pura e simplesmente porque existia a hipótese de o guia ser mais um desgraçado no meio de todo este filme de ficção e não sei se poderia sofrer algumas represálias por não entregar o "relatório" que imagino que tivesse de fazer todos os dias para as autoridades chinesas. O relatório nunca devia ser muito interessante, porque lhe disse sempre que tinhamos estado pelas ruas de Lhasa a passear...

Mais uma vez quis saber um monte de coisas que fizémos questão em não lhe dizer e partimos rapidamente para a entrada do Potala. Tal como combinado, após a entrada, deixar-nos-ia sozinhos. Foi o que aconteceu embora o fizesse com alguma relutância.

Tínhamos agora aquele palácio fantástico por nossa conta, que em nossa opinião era um digno representante das 7 maravilhas do mundo. No mínimo, um dos 21 candidatos, mas com a ópera de Sidnei o Cristo Redentor ou a Torre eiffel, compreende-se que lá não estivesse... Vai-se lá perceber...


Era chegada a hora de aproveitar aquele momento, um verdadeiro privilégio, o de flutuarmos por ali juntamente com a imaginação e vivermos estórias fantásticas de séculos e séculos no meio da História do Tibete exactamente no seu centro nevrálgico. No majestoso Potala que é património da humanidade e que por força do seu assombro, parece maior e mais forte que os próprios Himalaias, que nas imediações, parecem em sinal de respeito fazer-lhe uma vénia.

O longo percurso, estende-se por uma miríade de estreitos corredores que se abrem para dar lugar às inúmeras capelas coloridamente decoradas e para os túmulos dos vários dalai lamas aqui sepultados. É um percurso místico e emotivo onde cada recanto parece ter uma história para contar. Existem vistas fantásticas de Lhasa, quer nos vários terraços por onde vamos passando, quer através das janelas das várias salas e corredores. A decoração transporta-nos para um cenário do género de casa de bonecas, dadas as dimensões reduzidas dos múltiplos locais e o cuidado colocado na ornamentação onde reina a madeira profusamente colorida.

Infelizmente, não é possível fotografar o interior do palácio, pelo que apresentamos aqui apenas as passagens pelo exterior dos vários edifícios.


Ao sairmos do palácio, sentimos uma força esmagadora, que nos faz ter esperança no futuro. Sonhamos que este palácio voltará a ganhar vida e que voltará a ser o centro administrativo e religioso da extensa região do Tibete. Voltaremos a ver o 14º Dalai Lama no lugar que lhe pertence dirigindo um país onde reina a paz e o respeito por todas pessoas, religiões e culturas. Sonhamos que o mundo será justo e que reporá a justiça e os inúmeros anos perdidos. Sonhamos que este povo não será extinto e diluído na sua própria terra. Sonhamos que os tibetanos voltarão a ser felizes. Sonhamos que todos os países esquecerão momentaneamente todos os seus interesses económicos e abandonando a hipocrisia reinante, não só reconhecerão o Tibete como um país independente como farão frente à China para que isso seja uma realidade.


A vida é feita de sonhos e a maior virtude do Palácio Potala é fazer-nos sonhar...

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